Famílias carentes prezam o valor da educação para que seus filhos evoluam, promovendo assim a tão salutar mobilidade social. Além da educação formal, via ensino fundamental, médio e às vezes superior, proveem, na medida do possível, educação moral, alimentar, sanitária etc. É um quadro desejável para um país que visa melhorar seu nível de bem estar econômico e social.
Infelizmente, no Brasil, muitos desses filhos promissores acabam vítimas da violência urbana, com sequelas permanentes e mortes prematuras. A par das deficientes condições de ensino e de transporte, estudantes são atacados com armas de fogo nos pontos de ônibus e trens. Médicos e profissionais da saúde são assassinados de manhã cedo quando se dirigem aos hospitais para realizar cirurgias e tratamentos. Juízes e oficiais de justiça são ameaçados por bandidos ressentidos à solta.
Policiais se disfarçam para não serem executados num eventual assalto. Cidadãos, estudantes e pesquisadores têm suas atividades interrompidas, sendo até mesmo atingidos por balas perdidas e intencionais, decorrente do enfrentamento ao poder crescente de facções do tráfico de drogas. Os feridos, sobreviventes, acabam sucumbindo ao precário atendimento emergencial nos hospitais públicos, convalescendo física e psicologicamente durante meses, alguns com sequelas permanentes. É o desperdício de recursos humanos tão dispendiosamente preparados, em boa parte com recursos públicos, ceifados precocemente ou em plena fase de recompensa à sociedade. Esse quadro esmorece o ânimo dos jovens, agrava o mal estar da população, além de solapar a competitividade da economia.
A taxa de mortes violentas por armas de fogo no Brasil era de 26,7 por 100 mil habitantes, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) de 2012, bem superiores aos índices de Rússia (11,3) e Estados Unidos (4,9), mesmo incluídas as mortes provocadas por “doidos solitários” em seus tiroteios domésticos. Importante seria examinar quais as soluções e práticas desses dois países em segurança pública, considerados, erroneamente, tão violentos como o Brasil. São, também, países complexos, onde há intenso consumo e tráfico de drogas.
A mobilidade social, aquela que dá esperança ao cidadão comum de que seus filhos tenham melhores oportunidades e condições de vida no futuro está emperrada no país. A solução encontrada pelas famílias de maior renda tem sido a emigração. Se há 30 anos se investia em cursos de pós-graduação no exterior, hoje se trata de fazer graduação em países desenvolvidos. Dessa forma, exporta-se cérebros, jovens que dificilmente retornarão ao país após 4 ou 5 anos num ambiente mais promissor e menos violento. Na melhor das hipóteses voltarão como dirigentes de multinacionais.
É mais um desperdício de talentos imprescindíveis, num país que tenta subir uma escada rolante… que desce.
Fernando Cariola Travassos
Diretor e Conselheiro da Associação Comercial do Rio de Janeiro
Engenheiro, Advogado e Doutor em Economia (USP)