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A saída para a crise pós-pandemia passa pelas relações multilaterais

Maior presença do Estado na vida nacional, novas tendências protecionistas, mudanças inevitáveis na estrutura do trabalho com o home office, empresas avaliando suas políticas de reabertura, reflexão das políticas fiscais, cooperação regional e análise de acordos multilaterais. Essas são algumas perspectivas do mundo pós-pandemia na visão do economista Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Palestrante da reunião virtual do Conselho Empresarial de Políticas Econômicas da ACRJ, realizada nesta quarta-feira, dia 8, Enrique Iglesias ressaltou que a saída para a crise, em decorrência da Covid-19, passa pelas relações multilaterais. O economista enfatizou a importância de estarmos atentos à pobreza e a desigualdade social, que aumentaram em todos os países, destacando que o problema é muito sério e há necessidade de buscar soluções para dar segurança alimentar a população, reativar a economia e o comércio após a crise  sanitária.

“É preciso salientar que estamos em uma mudança de época, novas tendências de uma época complicada. Precisamos alimentar a população de 193 países. No econômico, estamos observando um problema sério de limitação da área comercial. Na área social, temos que destacar, que junto com a desigualdade nos países, aumentou a pobreza”, comentou Enrique Iglesias.

O economista informou que a crise do coronavírus aparece colocando a economia em dois sentidos: demanda e oferta. “Essa crise é um fenômeno único na história e todos os conflitos são altamente impactantes em matéria social”, afirmou. Segundo ele, 60% da população da América Latina estão na informalidade e 30%, pelo menos, vivem nas ruas.

Enrique Iglesias considerou difícil entender a “distância” entre os Estados Unidos e a Europa. Ele comentou que a expansão da China é muito importante, não só pelo parceiro comercial e financeiro que é, mas como potência mais aberta ao multilateralismo e organização dos mecanismos internacionais. “Nessa nova época no mundo, há o conflito central entre China e EUA, que abre espaços para guerra comercial e tecnológica e a criação de zona de influência que pode afetar as nossas políticas. Esse conflito é um dos grandes desafios que temos pela frente”, alertou.

O ex-presidente do BID finalizou dizendo que “a América Latina precisa muito de um Brasil sólido, confiante e parceiro de todos os países”. O presidente do Conselho, embaixador Marcílio Marques Moreira, conduziu a reunião e observou que o Brasil, além da crise sanitária, vive hoje duas outras: a econômica e a política. “Estamos em uma situação muito difícil. Nos últimos poucos anos, estamos regredindo e sem poder exercer uma liderança que naturalmente nos caberia”, afirmou.