Artigos

O Rio de Janeiro e São Sebastião

O Rio de Janeiro e São Sebastião

Por Reinaldo Paes Barreto – membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

O nome oficial da capital carioca, que faz aniversário neste 1º de março, é de uma grandiloquência que não combina com a informalidade de nossa gente: São Sebastião do Rio de Janeiro. Aliás, por que essa associação entre o santo e a cidade? Tenho duas hipóteses. A primeira, devido a uma espécie de “gratidão religiosa”, ou seja, segundo a lenda, São Sebastião teria sido visto lutando ao lado dos portugueses contra os franceses e os índios tamoios na batalha final de 1567, pondo fim ao projeto ultramarino da monarquia francesa de fundar aqui a França Antártica.

E a segunda, a meu ver a mais provável, pelo fato que o rei de Portugal (embora ainda menino) era o lendário Dom Sebastião, o qual, por sua vez, tinha esse primeiro nome em homenagem ao santo. E a quem, obviamente, Mem e Estácio de Sá deviam obediência … e puxa-saquismo. Daí o batismo.

Mas expulsos os invasores, a cidade foi fundada e tornou-se o centro comercial e político do Brasil-Colônia e, na sequência, sede da Coroa de Portugal, depois do império brasileiro, da república, e dos estados da Guanabara e, agora, do RJ. E nos tornamos uma cidade-referência que durante duzentos anos ditou a moda no Brasil. Literalmente. E não só a moda, mas o samba tradicional e a bossa nova, importantes universidades, (Direito, Medicina, Engenharia, Arquitetura, Música, Artes e Ofícios) e era ponto de convergência de todos os movimentos culturais e artísticos do país. Além de matriz da editoração, do jornalismo, da propaganda, da radiodifusão e do “fazer política”. E, na outra ponta, o Rio foi, também, o endereço de importantes multinacionais, dos grandes bancos e seguradoras, das embaixadas estrangeiras e de organismos internacionais.

Chega? Não. Faltou dizer que fomos (ainda somos?) “a sede” do petróleo e gás, da eletricidade, da indústria farmacêutica, da cosmética, da propriedade intelectual e do melhor da caricatura, das charges, cartoons e do papo de botequim.

Mas veio a mudança do DF para Brasília, pouco depois a fusão com o antigo Estado do Rio e, parodiando o Chico, “o sangue errou de veia e se perdeu”. Governo e os setores produtores não foram capazes de criar a tempo a Indústria Criativa, como a chamou pela primeira vez a Aspásia Camargo, nem criar incentivos fiscais capazes de reter os bancos de investimento, a Bolsa de Valores, as cias. aéreas e um turismo de negócios inovador.

E como não resolve nem surtos nostálgicos, nem polianismo, o que precisamos é o que preconiza, por exemplo, o atual presidente da ACRJ, Josier Vilar. Mobilizar todos “os atores” atuais com capacidade de (re)agir e/ou empreender soluções a partir das ferramentas que a tecnologia de ponta e a IA nos propicia: segurança de dados, segurança jurídica, bairros inteligentes, serviços computadorizados e eficazes, algoritmos a serviço da infra urbana, medicina diagnóstica para a maioria da população, ensino fundamental com novas “grades” (propriedade intelectual, saúde preventiva, alimentação saudável, consciência do coletivo), e novos atrativos para o turismo – sobretudo o de curta distância – para o Rio voltar a ser uma cidade 4.0, inclusiva, amigável para os grupos LGBT e “pets” e,  em suma,  boa para se viver,  se trabalhar, se divertir …  e para ganhar dinheiro.

Insistir na tese da “cidade mais bonita do mundo” e/ou aplaudir o pôr-do-sol em Ipanema é como tratar uma doença grave com Maravilha Curativa. Até porque concordo com o Zeca Pagodinho: “camarão que dorme, a onda leva…”

Reinaldo Paes Barreto também é assessor da diretoria do INPI