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Perspectivas para o setor de Turismo no Pós-pandemia

Perspectivas para o setor de Turismo no Pós-pandemia

Por Flávio Graça (*)

O turismo, sem dúvida, foi um dos setores mais atingidos pela pandemia! Estima-se que o fechamento de fronteiras, medidas de bloqueio e as restrições, levaram ao déficit entre 60 e 80% das viagens internacionais. Tudo isso acontece depois de um crescimento mundial contínuo do segmento durante uma década, o que o levou ao patamar de 10,3% do PIB global com 330 milhões de empregos, ou seja, 1 em cada 10 postos de trabalho no planeta. No Brasil são US$139,9 bilhões, 7,7% do PIB nacional, com 7,4 milhões de postos.

A despeito do cenário atual, grandes grupos seguem expandindo suas redes e inaugurando novas unidades. Esta estrutura sólida denota a resiliência do setor e a capacidade de enfrentar os novos desafios.

Ainda, não obstante a tão esperada retomada das atividades, o setor deve-se preparar para mudanças no comportamento e nas preferências de seus consumidores. Novas tendências certamente irão afetar os modelos de negócio. Afinal, mesmo após todos estarem devidamente vacinados, sabe-se que a covid deixou marcas profundas que não serão facilmente apagadas da memória e que, certamente, serão responsáveis pelo novo padrão de comportamento.

Neste artigo vamos discutir quais os desafios que o setor deve enfrentar com o objetivo de responder às demandas de mercado com máxima eficiência.

Segurança Sanitária

Obviamente, este tópico não vem em primeiro lugar por acaso. Em 2020 pesquisas com temas relacionados à área de saúde e o quesito segurança sanitária como fator de escolha para o consumo lideraram seus respectivos rankings no Google consumer survey. Aguardamos consumidores atentos aos pequenos detalhes e que, certamente, entendem que segurança sanitária é um fator de qualidade primordial em qualquer entrega de serviço ou produto. O grande desafio é não pecar por excesso a ponto de inviabilizar a operação ou desperdiçar investimentos por ser displicente nas medidas e receber o carimbo da insegurança e do risco associado à baixa qualidade. É compreensível que, no ano passado, tudo era muito novo e a busca desesperada por profissionais capazes de delinear protocolos e soluções levava muitas vezes o empresário para caminhos obscuros. Hoje é possível buscar consultoria técnica e certificações especializadas com foco no segmento de serviços e produtos. O importante é que a metodologia aplicada seja transparente e confiável e divulgada de forma ampla por meio de diferentes estratégias e veículos como manuais, procedimentos operacionais padrão e mídias sociais.

Esporte, Lazer e bem-estar

            Os segmentos de turismo estão se preparando para clientes ávidos por atividades ao ar livre, esportes, alimentos orgânicos e saudáveis. Atividades de lazer, dada a sua importância, estão deixando de ser terceirizadas e incorporadas aos hotéis e pousadas. Até clientes corporativos, durante seus eventos de trabalho, buscam por atividades extras como por exemplo aulas de coquetelaria, capazes de agregar e estimular a descontração e o relaxamento depois de tempos tão duros.

Tecnologia

            Terminais de autocheck-in e autocheck-out tendem a estar cada vez mais presentes nas recepções dos hotéis possibilitando chegadas e saídas mais rápidas e, até mesmo, os atos de entrar e sair do quarto sem passar pela recepção de forma a diminuir o acúmulo de pessoas nos saguões. Salas de videoconferência e espaços inteligentes totalmente interconectados possibilitam aos hóspedes em qualquer lugar ligar e regular os sistemas de ar condicionado, iluminação do ambiente ou reservar atividades por meio de aplicativos. Vale ressaltar que o segmento hoteleiro abriu mais uma oportunidade de serviço com a expansão do home office. Hotéis oferecem serviços de room-office com sofá ao invés de cama, internet de alta velocidade, frigobar abastecido, serviço de quarto e até equipamentos de academia dentro do quarto para as horas de relaxamento. A tecnologia poderá mitigar também o over turismo por meio de aplicativos que indicam os pontos turísticos mais cheios para os viajantes.

Adequações estruturais

            Espaços abertos serão os mais cobiçados. As reformas estão sendo pensadas de forma a proporcionar maior ventilação natural e conexão de áreas fechadas com espaços ao ar livre. O conceito de estruturas de fácil limpeza e higienização serão priorizados nas escolhas. A diminuição de almofadas, elementos decorativos, jornais e revistas serão uma tendência. Quartos customizáveis com camas totalmente removíveis também estão sendo implementados. Sistemas de climatização deverão passar por revisões e reformas, as chamadas retrofit, termo que designa o processo de modernização de algum equipamento já considerado ultrapassado, tudo com o objetivo de melhorar cada vez mais a qualidade dos “ecossistemas” dos ambientes, deixando-os potencialmente até mesmo mais seguros que alguns ambientes abertos, dependendo, é claro, da concentração de pessoas.

Serviços

A força de trabalho deverá interiorizar as mudanças e passar por capacitações periódicas, para dar sustentabilidade às novas estratégias e processos operacionais implantados. Os quartos serão adaptados cada vez mais ao modelo room service para se adequarem ao desenvolvimento dos sistemas de delivery e take away. Máquinas de venda de produtos poderão ser facilmente encontradas em diversas áreas.

Fluxo de pessoas aos destinos turísticos mais visitados

No período inicial de flexibilização tem se observado uma preferência por destinos mais próximos. Áreas abertas como por exemplo as relacionadas ao turismo rural, ecoturismo e o de aventura têm sido privilegiadas. Será necessário um tempo para o reequilíbrio destas opções com os destinos tradicionalmente procurados.

Os cruzeiros marítimos, suspensos há muito tempo, tiveram, em junho de 2021, sua classificação de risco no CDC, Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos da América, rebaixada do nível 4 para o 3, ou seja, pessoas que estiverem devidamente vacinadas podem realizar esta atividade desde que façam o teste de covid 1 a 3 dias antes do embarque e respeitem todos os protocolos de prevenção durante a viagem. Devemos lembrar que, as autoridades sanitárias de cada país serão responsáveis por definir regras de restrição quanto ao fluxo de pessoas em cada localidade, de acordo com o embarque e desembarque de passageiros por meios terrestres, aéreos ou aquaviários.

O que dizem os viajantes

Segundo enquetes recentemente realizadas pelo Trip Advisor verificou-se que:

Quase metade (47%) de todos os entrevistados globalmente afirmaram que planejam viajar para o exterior em 2021;

Mais de três quartos (77%) dos viajantes pesquisados ​​afirmaram que terão maior probabilidade de viajar para o exterior se receberem a vacina;

Mais de um quarto (26%) dos entrevistados no mundo afirmaram que, para garantir uma viagem segura, eles viajarão apenas para destinos que exijam que os visitantes sejam vacinados antes da viagem;

Quase metade (45%) dos entrevistados planejam pelo menos duas viagens domésticas em 2021;

A maioria dos consumidores pesquisados ​​(64%) também relatou o desejo de comprar mais no varejo local em 2021.

O Desafio é grande, mas não é impossível de ser superado

Sabe-se que o setor não vai se recuperar rapidamente e que os gastos com as adequações irão atingir quem já está fragilizado, mas, por outro lado, existe uma demanda reprimida ávida por retornar. Assim, pode-se afirmar com veemência que, recuperar a confiança é a ordem do dia. O gigante setor de turismo possui total capacidade de se reerguer e recuperar a confiança de consumidores e investidores.

(*) Doutor e Mestre em Ciências pela UFRRJ e Professor associado na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)