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Depois que a pandemia passar

Depois que a pandemia passar

Artigo da presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Angela Costa, publicado originalmente em O Globo, em 4 de novembro.

Quem passa pelo Centro do Rio nesses dias de combate ao coronavírus fica impressionado com o que vê. O cenário de ruas desertas e comércio fechado lembra filmes de ficção. E leva muitas pessoas a se perguntarem sobre o futuro de nossa cidade. O que acontecerá com o Rio após a pandemia? Com os problemas que se acumularam nos últimos tempos, é possível acreditar na volta ao normal e na retomada da atividade econômica?

A Associação Comercial do Rio de Janeiro, ao longo de sua história bicentenária, nunca se deixou abater pelo pessimismo. Ao contrário, a Casa de Mauá sempre apostou no Rio. E mais uma vez engrossa o coro daqueles que acreditam no dinamismo e na resiliência da economia carioca. São grandes os desafios, mas nós temos condições de vencer a crise atual. Não haja dúvida: com os necessários ajustes, o Rio de Janeiro vai dar a volta por cima.

A mudança deve começar pelo setor público. Caberá ao futuro prefeito, independentemente de partidos e ideologias, realizar uma reforma administrativa, reduzindo custos e também a burocracia, por meio da simplificação de rotinas. É preciso melhorar a gestão pública, qualificando os servidores com foco no aumento de produtividade. Como ressaltam economistas que conhecem de perto nossos problemas, se o município está em desordem, perde a capacidade de atrair investimentos e gerar emprego.

Nessa mesma direção, também é importante que o resultado das políticas públicas seja acompanhado por toda a sociedade, sem qualquer tipo de obstáculo. A transparência das contas, com obediência à Lei de Acesso à Informação, contribui para gerar segurança nas pessoas físicas e jurídicas, incentivando a abertura de novos negócios.

Com a casa arrumada, será possível estimular empresas internacionais de tecnologia, centros de inovação e de pesquisa a se instalarem no Rio, desde que se reduzam o tempo e as taxas para a obtenção de alvarás. Também haverá espaço para criar um hub universitário, que estimule o empreendedorismo, com incubadoras e parques tecnológicos.

No setor energia, será estratégica a instalação de um centro ligado à International Energy Agency, que oriente a busca por inovação, com o lançamento de uma incubadora que agregue novas tecnologias, data science e inteligência artificial. Ao mesmo tempo, devem ser adotadas ações de eficiência energética e a geração produzida por fontes renováveis, promovendo o uso mais racional de energia nos prédios da administração pública, escolas e hospitais da rede municipal.

Como o Rio tem no turismo sua vocação natural, qualquer plano de retomada tem de incluir, de forma planejada e contínua, ações de marketing e promoção do destino “Rio de Janeiro”. Essas iniciativas devem ser realizadas tanto no Brasil quanto no exterior, com o intuito de atrair turistas e divisas. É fundamental, nessa frente, preservar as áreas da cidade que são reconhecidas pela Unesco como Patrimônio Mundial, além de estimular atividades que contemplam a cultura e a economia criativa.

Não poderia concluir sem abordar a questão da revitalização do Centro do Rio, onde está a sede histórica da ACRJ. O esvaziamento da região já era crescente e se agravou com os efeitos da pandemia. Portanto, é inadiável a criação de um projeto para revitalizar a área, com a finalidade de pensar diferentes formas de preservação do patrimônio edificado nos séculos XIX e XX. Deve-se incentivar novos investimentos em estabelecimentos comerciais nesse entorno, e ampliar a ocupação residencial.

Citei neste artigo apenas algumas iniciativas propostas pela ACRJ. Mas não faltam desafios à frente, para todos nós que amamos o Rio. O que não é motivo para descrença e desânimo. Como disse o poeta Vinícius de Moraes, no “Samba do Carioca”, “vamos, minha gente, é hora da gente trabalhar”.

Angela Costa é presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro