Água, segurança, energia e alimentos. Para o consultor da Unesco, Gustavo Trompowsky Heck, estes são os quatro pontos indispensáveis para a sobrevivência de uma nação, e que vão ser as principais motivações para eventuais conflitos entre os países que podem surgir após a pandemia. “O quadro geopolítico anterior já não era tranquilo ou estável. Já estava evidenciado um conflito muito forte entre EUA e China”, afirmou o consultor durante palestra ao Conselho Empresarial de Política e Comércio Exterior da ACRJ, nesta quarta-feira, 27 de maio.
No entanto, quando se trata do Brasil, o consultor é otimista em relação a capacidade do país de superar essa crise. “O Brasil tem oportunidades e pontos fortes para sair fortalecido mais forte da pandemia”, disse. Entre os motivos para essa confiança, Heck citou as reservas minerais e florestais brasileiras, a força do agronegócio, a dimensão do parque industrial, a potencialidade do turismo e do mercado financeiro, da diversidade racial e religiosa, além de nossa autonomia e autossuficiência alimentar e militar.
Mas as previsões para o resto do mundo não são tão positivas. A prova disso é o foco das maiores economias do planeta em seus armamentos militares. “Quando observamos os gastos militares de países como os EUA e China, percebemos que eles estão em ascensão”, disse. De acordo com o instituto britânico IISS, os gastos militares mundiais aumentaram 4% em 2019, a alta mais expressiva em 10 anos.
Além disso, Heck também observa o aumento de conflitos étnicos e religiosos e a ampliação de desigualdades como agravantes nesse cenário. “Verificamos que bilionários do ramo de comunicação em mídias sociais e da Amazon ganharam cerca de 400 bilhões de dólares durante a pandemia. Esse aumento da concentração de renda vai provocar outro grande problema. A migração descontrolada”, complementou.
Ele apresentou o livro “Relatório da CIA – Como será o mundo em 2020”, organizado por Alexandre Adler. Publicado em 2005, o livro previa que o processo de globalização só poderia ser interrompido por um grande conflito global ou uma pandemia. O consultor também comentou sobre o livro “A guerra além dos limites”, de 1999, no qual os autores Qiao Liang e Wang Xiangsui analisam o ressurgimento de uma guerra de outra forma em nossos tempos. Segundo Heck, os novos princípios não necessariamente incluem aplicações das forças armadas, mas sim o uso de forças alternativas, como ataques cibernéticos e até bacteriológicos. “O cenário que se apresenta é terrível. Teremos uma tensão social muito grande. Não sabemos qual será a resposta das pessoas que não têm emprego, que estão com fome”, afirmou o consultor da Unesco.
Como um alerta para o Brasil, Heck citou o historiador britânico Arnold J. Toynbee para concluir a sua apresentação: “só as sociedades que acreditam em si mesmas podem estar à altura dos desafios que lhe são feitos”.
A apresentação do consultor na íntegra está disponível por meio deste link.