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Mudanças Geopolíticas – Para onde vamos?

Mudanças Geopolíticas – Para onde vamos?

Ouvindo os candidatos à Presidência da República, sobre suas plataformas político/econômicas, nota-se  que, até agora, nenhum fez qualquer menção às relações do País com o exterior, como se isso não importasse.

Questões que envolvam política e comércio exterior são, talvez, propositalmente, ignoradas, ou por  conveniência ou mesmo por ignorância. O alcance das propostas atinge, apenas, questões conjunturais  internas (com exceção de um candidato).

O mundo em que vivemos  está em acelerada  mudança estrutural. A geopolítica  tradicional voltou a fazer parte do planejamento dos países envolvidos, como a de Mahan (poder naval), de Mackinder  (doutrina do “Heartland”), de Haushofer (espaço vital) e de Spykman (“Rimland”). 

Os  principais atores estão ativos no “teatro de operações” e aqui nos referimos aos Estados Unidos,  Rússia e  China, que disputam seus espaços vitais e “projetam” seus poderes, em constante competição, estando a Europa a flutuar  entre esses movimentos. Note-se, também, a Coréia do Norte que, sendo um país detentor de armamentos nucleares, se fez ouvir.

Juntamente com a questão da Criméia, a  Rússia  vem desenvolvendo seu eixo de influência estratégica entre Moscou, Damasco, Erbil (região do Curdistão) e Tehran, assim como a   aproximação com a Turquia, membro da OTAN,  se faz notar (o volume de comércio entre estes dois países já é maior que o comércio entre a Turquia e os Estados Unidos). Recentemente,  inclusive, o presidente daquele país (Turquia), Recep Tayyip Erdogan, identificou Moscou, juntamente com Beijing e Tehran, como alternativas à Washington, o que gera considerável apreensão, tanto na Europa, como nos Estados Unidos. Some-se a isso, a aproximação da Rússia com o Egito (o que poderia causar empecilhos aos Estados Unidos e à Europa em relação ao Canal de Suez), assim como a aproximação com a Líbia, cujos membros de seu governo já se reuniram com representantes russos, por diversas vezes (a Líbia possui uma das maiores reservas de “light crude  oil”, sendo a 5ª reserva de gás natural na África). Esta aproximação  poderá influenciar o fornecimento de energia à Europa.

Alguns consideram a Rússia como a potência militar estratégica mais forte do mundo, e a China como a grande potência econômica, a caminho de se tornar um  poder militar de considerável proporção.

Uma aliança estratégica entre a Rússia e a China deve ser motivo de preocupação para o Ocidente,embora esta última, aparentemente, através de seus representantes, evidencie suas relações internacionais com a retórica do “respeito mútuo, equidade, justiça, cooperação e benefício recíproco”.

Recentemente, a Rússia, China e Mongólia iniciaram manobras militares, batizadas de Vostok (2018). Tanto Xi Jinping como Putin prometeram reforçar sua parceria devido “as posições unilaterais diante dos problemas globais”, com clara referência ao governo Donald Trump. 

A OTAN, como reação, denunciou os “colossais” exercícios militares (300 mil soldados russos), como um ensaio a um “conflito em larga escala”. 

Esses acordos geoestratégicos ocorrem após o acirramento da guerra comercial entre China e Estados Unidos. 

A expansão do poder chinês será evidente com a nova “Rota da Seda”, que incluirá  31% do PIB global, 34% do comércio mundial, 65 países, 3 bilhões de pessoas da classe média (até 2050), e mais de 60% da população mundial, influindo em suas idéias, religiões, políticas e comércio.

Por outro giro, a presença da China e da Rússia na América Central e do Sul é digna de nota. Os chineses estão em tratativas para construção na Nicarágua de um canal de ligação entre o Pacífico e o Atlântico(Grande Canal Interoceânico), com capacidade para navios de 18 mil containers, rivalizando com o Canal do Panamá (com menor capacidade), o que, geopoliticamente, seria um grande inconveniente aos interesses norte americanos, que tem aquela região como um verdadeiro “Mare Nostrum”. Não é por acaso a ocorrência de violentos confrontos nas ruas de Manágua. 

O relacionamento  da China e da Rússia com o governo de Maduro (Venezuela) tem, também,  se expandido, inclusive, e, apenas como exemplo, com a implantação naquele país de uma fábrica de fuzis russos AK-47, com capacidade inicial de produção de 25.000 unidades por ano (parte dessa produção poderá vazar pelas fronteiras brasileiras). 

Os investimentos chineses no Brasil tendem a crescer (energia, infraestrutura e outros), já sendo a China nosso maior parceiro comercial, ultrapassando os Estados Unidos.

Com todo este cenário de mudanças e movimentos geoestratégicos, os Estados Unidos, certamente, estão apreensivos em relação à penetração chinesa (e russa) nesta região do globo, sob sua influência. Não foi por mera coincidência que o Secretario de Defesa Norte Americano, General Jim Mattis, visitou, recentemente, nosso país, alertando sobre a ameaça que a presença chinesa poderia trazer ao Brasil, tendo dito, na oportunidade, para se ter “cuidado  com os investimentos e presentes vindos da China”, nada falou, pelo menos publicamente, em relação ao BRICS.

Em paralelo, a visita do Secretário de Defesa à Colômbia, para encontro com o Presidente Iván Duque Márquez, após sua visita ao Brasil, leva a crer, segundo alguns analistas, na possibilidade de uma intervenção militar, direta ou indireta, na Venezuela.

Diante deste quadro, cujo espectro é muito mais amplo que o aqui relatado, como se posicionará o Brasil? 

O resultado do pleito de outubro deste ano talvez  nos traga a  resposta à essa indagação. 

Eduardo Lessa Bastos
Advogado e Sócio de Lessa Bastos Advogados
Presidente do Conselho de Política e Comércio Exterior da Associação Comercial do Rio de Janeiro