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Principais equívocos na prevenção da Covid-19 no ambiente corporativo

Principais equívocos na prevenção da Covid-19 no ambiente corporativo

Por Flávio Graça

Enquanto aguardamos ansiosamente para que o percentual de indivíduos vacinados alcance uma maioria significativa, capaz de proteger a população através da redução da circulação viral, o Brasil enfrenta uma nova elevação do número de casos e consequentemente, internações e óbitos. Por outro lado, existe a patente necessidade de continuarmos trabalhando em atividades essenciais, seja em sistema de rodízio ou, em alguns casos, com um número de pessoas muito acima do recomendado. Neste momento, a massificação das informações, as aglomerações desnecessárias, os números impressionantes, casos ocorridos com pessoas próximas e até mesmo óbitos de celebridades aumentam o temor e trazem à tona a lembrança de se reforçar as medidas de proteção. Entretanto, desde o início da pandemia, quando se trata de protocolos de higiene e segurança contra à COVID-19, temos observado muitos equívocos que podem levar, inclusive, à falsa sensação de segurança e disseminação de novos casos, principalmente nos ambientes de trabalho. No presente artigo destacamos a seguir algumas destas incongruências a fim de contribuir para a sua diminuição.

Não respeitar o tempo de ação para os produtos saneantes

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ANVISA, a maioria dos desinfetantes requer alguns minutos de tempo de contato para inativar microrganismos. Este período deve ser verificado nas instruções do rótulo do fabricante, o que significa que a higienização imediata por contato do agente químico não ocorre já que não há tempo hábil para destruição do vírus. Esta constatação derruba inúmeras medidas frequentemente observadas como por exemplo: o uso de tapetes umedecidos com saneantes, lenços e toalhas com desinfetantes, aspersores, pessoas que passam álcool 700 nas mãos e já estão imediatamente apertando as mãos de outras como se estivessem protegidas.

Ainda sobre os produtos saneantes, devemos ressaltar que existem alguns específicos para a pele e outros para superfícies de objetos. Usar produtos não indicados para a pele causa ressecamento, lacerações e até mesmo feridas que podem propiciar contaminações.

Adicionalmente, devemos lembrar que somente devem ser utilizados produtos regularizados na ANVISA, observado seu prazo de validade.

Não higienizar corretamente as mãos

A higienização correta das mãos com água e sabão deve ser realizada, de preferência antes e depois de cada atividade realizada no dia a dia. Para que ocorra periodicamente de maneira efetiva é necessário o fornecimento correto de todos os dispositivos necessários. Isto inclui água potável em abundância, sabão líquido, toalhas de papel para correta secagem e lixeiras com tampa sem acionamento manual, ou seja, aqueles cestos de papel não são permitidos para banheiros pois geram aerossóis que contaminam o ambiente. O tempo de lavagem com sabão líquido deve ser de no mínimo 20 segundos e a secagem também é importante. Outro fator importante para estímulo à higienização frequente é a oferta adequada de pontos de lavagem de mãos. A indisponibilidade de pontos suficientes gera filas que fazem com que as pessoas pulem ou adiem esta atividade. Existem disponíveis no mercado pontos móveis para lavagem de mãos que permitem a fácil instalação em caráter provisório.

O uso de luvas de procedimento sem que haja um motivo real

Luvas de procedimento ou luvas descartáveis, feitas de látex, vinil ou até mesmo aquelas de plástico, são indicadas para atividades específicas e isto não inclui muitas das ações rotineiras que exercemos diariamente como: se alimentar, manipular alimentos ou até mesmo nos servir.  As luvas produzem uma falsa sensação de segurança e proteção. Além disso o fato de usar luvas não substitui a obrigatoriedade da higienização das mãos e pode vir a dificultar ou até mesmo mascarar se esta atividade está sendo realizada corretamente. É comum observarmos luvas de procedimento da cor preta as vezes sendo utilizadas inclusive em gastronomia. Mas vamos imaginar que se o indivíduo, equivocadamente, permanecer por longo período com uma luva deste tipo fica difícil até mesmo perceber se está com acúmulo de resíduos.

O uso de ventiladores de parede, teto ou chão

Existe uma impressão equivocada de que ventiladores promovem a maior circulação de ar em ambientes fechados. Estes aparelhos criam um tipo de ventilação direcionada que empurra o ar para mais longe de modo a favorecer a contaminação entre pessoas a mais de dois metros de distância.

Não devemos confundir “explosão de ar” com a taxa de renovação de ar, bastante recomendada em ambientes internos, para minimizar o risco de transmissão de diversos patógenos, entre eles o Sars-CoV-2. Muitos ambientes corporativos foram desenhados para o uso exclusivo de sistemas de ar-condicionado. Além de atualização, por profissional habilitado, de todo o Plano de Manutenção, Operação e Controle – PMOC do sistema de ar-condicionado, devem ser instalados, caso não existam, dispositivos de renovação de ar interno.

Manter um fluxo de ar com uma porta e uma janela contralateral abertas também auxilia bastante a elevar a taxa de renovação de ar.

Uso equivocado de máscaras não adequadas

Recentemente, temos observado um aumento da procura de máscaras tipo N95 ou PFF2. A máscara conhecida como N95 refere-se a uma classificação de filtro para aerossóis adotada nos EUA e equivale, no Brasil, à PFF2 ou ao EPR do tipo peça semifacial com filtro P2. Cabe ressaltar que as máscaras PFF2 são indicadas para trabalhadores da saúde que recebem capacitação adequada para a sua correta utilização e reutilização. Além disso se toda a população utilizar haverá um desabastecimento para os setores que realmente precisam deste equipamento. O uso de máscaras PFF2 de forma errada põe em risco o usuário e até mesmo quem está em sua volta. Máscaras com filtro lateral ou frontal são ainda piores para a profilaxia da COVID-19 fora do ambiente hospitalar, pois facilitam a saída do ar exalado já que forçam o fluxo pelo filtro, impulsionando o ar para ainda mais longe e, permitindo também, a saída de perdigotos.

O cumprimento que toca com as mãos ou cotovelo

O cumprimento afetuoso é uma característica dos brasileiros e muitas vezes chama a atenção dos estrangeiros. Como forma de mitigar a transmissão da COVID-19 foram criadas alternativas como por exemplo, o cumprimento com o cotovelo ou com o toque dos punhos fechados. Entretanto, em tempos de pandemia, devemos evitar qualquer tipo de toque, até porque estaríamos ferindo as regras de aproximação. No ambiente corporativo é ainda mais constrangedor quando seu cliente ou seu chefe estende a mão para um franco aperto. Por isso recomenda-se que existam sinalizações por todos os espaços proibindo esta prática.

A prevenção com a capacitação periódica é o melhor caminho

A população foi praticamente atropelada pelo chamado ‘novo normal” e não houve tempo hábil para pesquisas e capacitações plenas. E ainda temos as chamadas fake news que promovem a desinformação.

É preciso investir no maior patrimônio da empresa que são seus colaboradores. O prejuízo financeiro de um profissional afastado por um período é previsível, mas a perda de vidas humanas é incalculável em vários aspectos. Os protocolos devem ser implementados por equipes especializadas. Não se pode agir de forma amadora ou intuitiva neste momento. Estamos aprendendo algo novo a cada dia. Para que os conceitos sejam interiorizados as equipes devem passar por capacitações e auditorias periódicas. Sabe-se da possibilidade de reinfecção, do surgimento de novas variantes e que as diversas vacinas produzidas em caráter emergencial não conferem imunidade de 100%. Ninguém pode afirmar quando voltaremos ao nosso padrão de normalidade. Por isso, não é hora de diminuir a proteção.

(*) DrMv – Doutor e Mestre em Ciências pela UFRRJ e Professor associado na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)