Por Paulo Hartung, Economista, é ex-governador do Espírito Santo.
Em um país reincidente em desperdiçar oportunidades e repetir erros, com tantos percalços em seu desenvolvimento, saltam aos olhos exemplos de setores que deram certo.
São empreendimentos que geram emprego, levando desenvolvimento país afora. Cito a Embraer, protagonista no restrito mercado de aeronaves, e nosso agro moderno e pujante, que fez o país sair da posição de importador para provedor de alimentos do mundo, com destaque para grãos e proteína animal.
Menciono, também, a internacionalização da WEG Motores, a Raízen produzindo etanol 2G, o compromisso com a sustentabilidade da Natura, os avanços em energia e mineração, entre inúmeros outros.
O setor brasileiro de árvores cultivadas está entre eles. Dados preliminares, que serão publicados em breve no relatório anual da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), mostram que esse setor planta em 10,5 milhões de hectares no Brasil. Um crescimento de 2,2% em relação ao ano anterior.
Essa ampliação se deu principalmente no estado do Mato Grosso do Sul, onde as plantações substituem pastagens de baixa produtividade, convertidas em florestas que proporcionam inúmeros benefícios ecossistêmicos.
Em todo o país, o setor planta 1,8 milhão de árvores por dia. Quando crescem, essas árvores removem e estocam carbono da atmosfera, ajudando no desafio planetário de enfrentamento da emergência climática.
Trata-se de uma indústria que se destaca no uso da terra por seu manejo sustentável, com mosaicos florestais que intercalam plantações de árvores com áreas de mata nativa. Ao todo, são mais de 7 milhões de hectares de florestas nativas conservadas. O mapeamento dos plantios florestais e das áreas conservadas é realizado a partir de imagens via satélite, captadas e analisadas pela startup Canopy Remote Sensing Solutions.
É um setor que cedo buscou rigorosas certificações internacionais que atestam a sustentabilidade de seu modelo de negócio e foi abrir mercados mundo afora. Em 2024, a indústria de árvores cultivadas exportou US$ 15,7 bilhões, um crescimento de 23,5% em relação a 2023.
Na contramão da acelerada desindustrialização nacional, vem inaugurando uma nova planta a cada ano e meio. A expansão está garantida, com investimentos previstos de R$ 105 bilhões até 2028.
Para ilustrar esse cenário, apenas em junho tivemos três notícias de peso. A Melhoramentos lançou uma novidade no Brasil: uma embalagem produzida com matéria-prima renovável a partir da fibra de celulose, alternativa àquelas de origem fóssil. Resistente à água, umidade, óleo e altas temperaturas, a embalagem pode ir do freezer ao forno, tem menor pegada de carbono e é compostável em até 75 dias.
A Munksjö, por sua vez, inaugurou em Caieiras, região metropolitana de São Paulo, a renovação de seu maquinário de papel decorativo. Com isso, a empresa dobrou sua capacidade de produção para a América Latina, podendo atender todo o mercado brasileiro e aumentar as exportações para a região. A Munksjö passa também a ter um processo que consome menos água e energia, e gera menos resíduos e emissões.
A Suzano, maior produtora de celulose de fibras curtas do planeta, reforçou seu caminho na produção de papeis para higiene pessoal ao anunciar a formação de uma joint venture com a Kimberly-Clark. A sede será na Holanda e abraça a operação de 22 fábricas, localizadas em 14 países espalhados por Europa, Ásia, Pacífico, Oriente Médio, África, América do Sul e Central. A notícia aponta para a maturidade do setor e a visão estratégica que preside as decisões da empresa.
No ano passado, a Ibá passou a representar também uma nascente indústria no país, a de restauração florestal e silvicultura de nativas. São empresas que, juntas, estão movimentando bilhões de reais com produção de sementes e mudas, preparo de solo, aquisição de terras, manejo e controle de pragas. O surgimento dessas iniciativas reforça a vocação que temos para sermos protagonistas e uma potência global em soluções baseadas na natureza (SbN) e no mercado mundial de carbono.
Apesar de o setor viver ciclo positivo, temos também desafios. Um deles é o de infraestrutura: faltam boas rodovias, ferrovias e, principalmente, portos para escoar a produção. Também temos de superar questões ligadas à oferta de mão de obra, pois a formação de pessoal qualificado no Brasil não tem acompanhado o crescimento dessa indústria. Outro entrave é o da conectividade no campo. E há, ainda, o gravíssimo desafio da segurança jurídica e regulatória, com o processo de judicialização excessiva.
Nosso país tem diante de si a oportunidade histórica de fortalecer cadeias produtivas como essas, que já entregam resultados expressivos e sustentáveis. Além disso, é necessário aprender com os acertos e parar de repetir erros. Segmentos exitosos iluminam o caminho que devemos seguir para encarar os problemas que dificultam o crescimento nacional. É urgente que os bons exemplos deixem de ser exceção e passem a representar o novo padrão de desenvolvimento do Brasil.