A realidade do trabalho está mudando com as novas tecnologias. É o que aponta o professor e coordenador de desenvolvimento do departamento de Informática da PUC-Rio, Gustavo Robichez. Em sua palestra para o Conselho Empresarial de Inovação, Comunicação e Tecnologia, realizada no dia 19 de março na ACRJ, o professor falou sobre transformação digital, os novos desafios empresariais e do trabalho, além de oportunidades de negócios e investimentos e ecossistemas de inovação.
“Uber yourself before you get Kodaked”, ou “torne-se o Uber antes de virar a Kodak”. A frase de Marcus Shingle, CEO da Fundação XPrize, foi apresentada por Robichez para exemplificar a necessidade das empresas de adotarem soluções tecnológicas e inovadoras para se destacarem, sob o risco de se tornarem obsoletas. A XPrize é uma organização sem fins lucrativos especializada em criar e implementar modelos inovadores que se utilizam de gamificação, financiamento coletivo, incentivo de competição e tecnologias exponenciais para solucionar os maiores desafios sociais do mundo.
E sobre esses mesmos temas tratou a palestra de Robichez na Casa de Mauá. Segundo ele, esses assuntos, como o da própria transformação digital, não possuem grandes novidades, mas ganham novos significados e aplicações com o avanço incremental da ciência, com o aumento exponencial da capacidade computacional, da explosão de objetos conectados e dos dados, além da democratização das tecnologias. “Hoje temos o que costumo chamar de ‘tempestade perfeita’, pois mais pessoas têm acesso a um conhecimento cada vez mais disponível”, afirmou.
Inovações
Robichez detalhou algumas tendências tecnológicas que se apresentam no atual cenário e as oportunidades de negócios que elas apresentam. Ele citou como seu exemplo preferido os “blockchains”, ou registros distribuídos. Estes sistemas, em conjunção com bases de dados robustas, teriam como uma de suas características uma maior eficácia em operações de logística e outras aplicações, evitando prejuízos e contratempos, como acontecem desde sobrestadas de navios nos portos até gargalos operacionais em cartórios.
“Esse tipo de inovação tem muito potencial no nosso estado. Assim como os Chatbots”, disse, enumerando outra inovação que tem capacidade de trazer reduções de custos para as empresas. Os chatbots são inteligências artificiais que passam a assumir a função de suporte e até de telemarketing de empresas. Esse talvez seja o ponto que melhor exemplifique as mudanças na realidade do trabalho apontadas pelo professor.
Nova realidade do trabalho
No entanto, ele reflete sobre o impacto social desse novo cenário apresentado. “Precisamos lembrar das pessoas. O que a tecnologia traz para o futuro do emprego, por exemplo?”. Robichez apresentou uma pesquisa do Wall Street Journal que aponta a mudança significativa das demandas profissionais com a entrada das novas tecnologias. De acordo com os dados, que fazem um apanhado entre os anos de 1988 e 2014, há um percentual crescente de empregos cognitivos não rotineiros, ou seja, trabalhos criativos, enquanto há um declínio dos trabalhos manuais rotineiros e mesmo os cognitivos rotineiros, que vêm sendo substituídos por robôs, sistemas inovadores ou inteligências artificiais. Segundo o professor, “o ser humano, nesse contexto, passa a contribuir com a criatividade.”
“Temos que olhar para a formação dos talentos. Hoje vivemos em um mundo de dados. Quando pensamos em talento, pensamos na pessoa que está preparada para esse mundo. Precisamos cobrar das universidades para que elas mudem o paradigma educacional e prepare os novos profissionais para essa realidade”, defendeu Robichez, enquanto apresentava ideias de metodologias educacionais alternativas, como o Método de Ensino e Aprendizagem Baseado em Desafio (CBL).
Para ele, com o reconhecimento dos novos paradigmas, o Rio de Janeiro tem condições de entrar nessa corrida na qual as mudanças não param de ocorrer. “Existe um espaço muito grande para a aplicação dessas tecnologias. O Rio é um terreno muito fértil para essas iniciativas”, afirmou. “Temos um futuro de possibilidades. Esse futuro choca nossos conceitos, mas é necessário estarmos abertos a eles para que possamos nos reinventar nessa nova realidade informacional”, concluiu.