Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
As Festas Juninas desembarcaram no Brasil trazidas pelos colonizadores portugueses no século XVI. No início, eram restritas às elites e também carregavam um forte viés religioso, como a organização de missas e procissões. O DNA dessa celebração, no entanto, vem de uma festa rural, telúrica: o fim da escuridão do inverno e a alegria do solstício de verão.
Mas o tempo foi rolando e essas festas foram adquirindo um formato popular e, claro, extremamente festivo, até porque no nordeste brasileiro elas coincidem com o início das chuvas e a safra do milho: tudo de bom! Tanto que em cidades como Caruaru e Petrolina, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, rivalizam em público e animação com o Natal, o Réveillon e o Carnaval.
Mas a “razão de ser” desses megaencontros, no entanto, vem passando por uma reconstrução dos seus conteúdos e formatos, como resposta às exigências sociais e ambientais dos nossos tempos. É cada vez mais frequente, por exemplo, que se observem e pratiquem procedimentos mais corretos, como os que se seguem:
- Desconstrução dos estereótipos do caipira e da saloia, como personagens simplórios (o jeca) com trajes, sotaques e adereços caricatos;
- Respeito à novas redes da diversidade de gêneros e raça: presença de grupos LGBT e drag queens quanto às opções sexuais; na região amazônica, sobretudo nas comunidades ribeirinhas, procissões fluviais, danças à beira dos igarapés e até comidas da floresta;
- Responsabilidade ambiental: em vez de fogueiras reais, fogueiras cenográficas, com projeções luminosas; lixo reciclável; utilização de materiais biodegradáveis e, sobretudo, presença de uma culinária produzida por pequenos cozinheiros e doceiras da vizinhança, com produtos naturais/orgânicos;
- Resgate dos valores regionais/ancestrais: preferência pelos produtos da safra agrícola de cada região; novas versões de música e danças: já há jovens DJs mixando o clássico forró com baião e xote; quadrilhas com novos ritmos e movimentos, inclusive com figurinos modernizados e enredos temáticos;
- Finamente, festas juninas virtuais – uma herança da pandemia – em locais com difícil acesso, ou agregando enfermos e pessoas com problemas de locomoção, como idosos e outros PCDs.
Ou seja, também no capítulo do entretenimento temático, como são essas festas, há um bonito esforço da sociedade para fazer da divergência a convergência em torno de um novo Brasil que dá certo.
Reinaldo Paes Barreto é assessor da Diretoria Executiva do INPI