Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
O sábado de aleluia e o domingo de Páscoa são, talvez, as festas religiosas mais em torno da família do calendário canônico. E já é uma tradição que vem de longe, celebrar a ocasião usando as marcas da Páscoa: ovos e coelhos de chocolate.
Mas por que ovos e coelhos? Pelo sentido simbólico que estas duas marcas representam para o cristianismo, porque a existência está ali representada pela metáfora do ovo, a véspera da vida, e dos coelhos, espécie célebre pela velocidade e quantidade de sua ninhada. Ou seja, a metáfora da multiplicação de fiéis e devotos.
E aonde entra o chocolate? A partir do seguinte cenário: durante os séculos 8, 9 e até o 17, e para incorporar as crianças ao clima da Páscoa, era tradição na Europa esconder ovos “de verdade” – embora cozidos e pintados – nos canteiros, calçadas e demais esconderijos domésticos ou públicos, para despertar o sentido de busca do universo infantil.
Até que algum criativo chocolatier francês teve a ideia brilhante de produzir ovos de chocolate, para estender o consumo aos adultos. Pegou e foi sucesso imediato. O passo seguinte, não sei se o mesmo, ou outro chocolatier, também francês, foi usar a fórmula do modelo real (coelhos) elaborados com chocolate, como estes da vitrine que eu fotografei há muitos anos, na Rue de Rennes, em Paris.

Finalmente, um olhar sobre o chocolate. Originário do México, onde os maias o preparavam na forma líquida, ele foi levado para a Espanha pelo conquistador Cortez, em 1528, que além de trazê-lo para a sua terra ensinou os seus patrícios a melhorar maneira de torrar as sementes do cacau, e servi-lo quente. O sucesso foi tanto que a bebida se espalhou pela Europa e de lá para o mundo americano do norte, e “capturou” uma legião de consumidores.
Mas o mercado é exigente e quer sempre algo mais. Desde o final do século XX, então, os franceses (sempre eles) começaram a produzir o que chamaram os chocolates varietais, isto é, chocolates elaborados a partir de um só tipo de semente de cacau. E essas sementes, por sua vez, são exclusivas das maiores regiões produtoras do mundo: a Costa do Marfim, Gana, Equador, Camarões, Nigéria, Brasil, Indonésia e Papua, segunda dados da OMC de 2024. E pasmem: no nosso país, o Pará desbancou a Bahia na produção, porque o ataque da vassoura-de-bruxa devastou a região de Ilhéus e as plantações vizinhas.
E para finalizar, uma “ultrassonografia” dos apaixonados por chocolate. Eles se repartem em quatro categorias, a partir do mais dependente para o menos: os chocólatras, os consumidores “de peso”, os bissextos e os “volúveis”, que são os que às vezes trocam o chocolate puro por nutelas, brownies e até nescau …
Seja como for, o chocolate é um dos alimentos mais populares do mundo, porque a combinação de seus componentes ativa o sistema de recompensa do cérebro.
(*) Esclarecimento importante: a coelha não põe ovos. Os coelhos são mamíferos.
