Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
Sim, ambos muito agradáveis, mas e daí? Explico: foi graças à cerveja que o engenheiro alemão Carl Von Lide inventou o ar-condicionado. E isso porque para ser produzida (e apreciada como devido), a cerveja precisa ser refrigerada, especialmente na fase de maturação, quando a sua temperatura deve ficar em torno de 0ºC. Ora, como no verão europeu (onde já existiam as grandes cervejarias do século XIX) isso era praticamente impossível, embora já funcionassem geladeiras nos EUA desde 1866, o criativo Von Linde desenvolveu um método original de arrefecimento, que foi batizado de técnica de Linde, para a liquefação de grandes quantidades de ar. E isso foi em 1894 a pedido da cervejaria Guinness, irlandesa.
Ou seja, ele recorreu ao princípio da contra-corrência, através do qual o ar é sugado para uma máquina que o irá comprimir, pré-arrefecer e, por fim, descomprimir. Hoje, aperfeiçoados, os ares-condicionados são compostos por um condensador, um evaporador, um ventilador, além de um conjunto de serpentinas resfriadas dentro do aparelho por uma substância, R-22, à base de cloro, flúor e carbono. O ar sugado do ambiente passa pelo condensador, que promove a troca do calor pelo frio, percorre esse circuito das serpentinas e é “expulso”, já refrigerado, para o ambiente externo.
Sim, ótimo, mas a propósito: o que é a cerveja, afinal? É o resultado da fermentação alcoólica do mosto de algum cereal maltado, sendo o melhor e mais popular a cevada. Mas outros cereais maltados ou não maltados são igualmente usados, incluindo o trigo, arroz, milho, aveia e centeio. Além disso, como a água é o seu principal elemento, a origem dessa água e as suas características têm um efeito determinante na qualidade da cerveja, influenciando, por exemplo, o seu sabor.
Outro ingrediente muito importante é o lúpulo (*), uma trepadeira da família Cannabaceae, a mesma da maconha, mas que não possui as enzimas necessárias para sintetizar canabinoides. Apesar deste parentesco, o lúpulo não nos conduz ao mesmo estado “odara”. Embora, como muito bem observou o nosso presidente-médico, Josier Vilar, é a presença do lúpulo que explica, então, porque a cerveja provoca um certo torpor e sonolência, já que a graduação alcoólica por si só não justificaria.

Além do lúpulo, dezenas de estirpes de fermentos naturais, ou cultivados, são usados pelos cervejeiros, o que resulta nas duas famílias principais de cervejas: as lagers, de baixa fermentação, com aroma suave, e as ales, de alta fermentação e sabor frutado, apresentando uma coloração que varia do dourado ao marrom escuro. Mas todas devem ser tomadas a uma temperatura de 2 a 6 graus, porque estupidamente gelado só chope. E o chope é a versão “primo de bermuda” dessa nobre irmã do vinho, só que não é pasteurizado. Além disso, o chope é significativamente mais carbonatado do que a cerveja. E não pedigree histórico!
Por exemplo: Shakespeare fez 14 menções à palavra “ale” e cita cinco vezes a palavra “beer” ao longo de sua obra teatral (cerca de 40 peças). O que nos leva a duas conclusões: uma é que no tempo do poeta de Romeu e Julieta (1564 a 1616) a cerveja já era uma bebida popular no Reino Unido. E a outra é que além de gênio, o bardo de Stratford-Upon-Avon gostava de uma “loura” quase que hereditariamente: o pai dele era o mais próspero comerciante de “ales” da região.
To beer or not to beer…
(*) A adição do lúpulo à fórmula da cerveja, introduzida pelos monges nos anos 700 d.C., serviu não apenas para “puxar” o sabor para o amargo, mas, e sobretudo, para evitar que ela se deteriorasse.
