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Gastronomia de rua

Josier Vilar com João Barreto, empresário pioneiro no Rio recebe prêmio na ACRJ
Josier Vilar com João Barreto, empresário pioneiro no Rio recebe prêmio na ACRJ

Gastronomia de rua

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

E no caso de um quiosque – no entorno da orla marítima do Rio, ou de uma de suas lagoas – os cuidados e as demandas são outros: o som (ao vivo ou eletrônico) há que chegar aos ouvidos em volume aceitável; o espaço de convívio é indiscriminado, mas não pode ser promíscuo; não há requinte, mas há que haver higiene e infraestrutura dos serviços e, sobretudo, o ar-livre tem que compensar o não-abrigo de um ambiente fechado e refrigerado pela vista da paisagem, pela informalidade, pelo visual das pessoas.

Primeiro, vamos nos entender: enquanto a alimentação é uma urgência orgânica, a gastronomia é uma opção dos sentidos, eu quase diria, um “luxo do paladar”. E ela pode ser contextualizada com pompa e circunstância em um restaurante estrelado, ou degustada com igual prazer na simplicidade de uma tasca – ou a céu aberto – em um quiosque carioca, por exemplo.

Mas, como tudo começou? Com as carrocinhas de comida, há mais de duzentos anos, no tempo do Brasil-Colônia. E Debret pintou alguns quadros da época, com escravas preparando panelões a céu aberto, com caldos frios e quentes, arrozes com camarões e mariscos, galinhas, porcos, tudo depois misturado com feijão, farinha e muita cebola. E doces de frutas em calda, compotas, goiabadas, etc.

Comida de rua pintada por Debret

Mas já no século XX, o Rio oferecia um outro tipo de alimento, mais prático de fazer e mais fácil de comer: o cachorro quente da carrocinha Jonn’s, na Praia da Barra da Tijuca, sacada pioneira do recém-chegado cearense João Barreto, hoje uma lenda quando se fala em quiosques da orla do Rio. Tanto que no ano passado foi homenageado pela Associação Comercial com o Prêmio Mauá de Empresário do Ano (2024), graças à iniciativa de outro vitorioso visionário, o médico e empresário Josier Vilar, atual presidente da bicentenária entidade.

A primeira carrocinha Jonn’s

Observações

1: Aquela solitária carrocinha de 1962 “se multiplicou” em 309 quiosques modernos a partir do Projeto Rio Orla, equipados com todo o conforto, e inaugurou uma era que acrescentou gastronomia e convívio à “cultura de praia” da Cidade. Esses espaços-quiosques hoje oferecem conforto, com música ao vivo, toda a estrutura sanitária e hidráulica e, para saborear, de petiscos saborosos e originais ou refeições completas, harmonizadas com champagne, espumantes, bons vinhos, drinques criativos ou sucos e a tradicional água-de-coco. E para comer, de simples tira0gostos a ostras, tartares, frutos do mar, ceviches, massas e tudo o que um restaurante moderno pode apresentar. E o mais importante: tornaram-se, também, espaços de comemoração de aniversários e até casamentos, alguns com cem pessoas a bordo!

2: No século XVIII (e até hoje), em lugares frios, como na Inglaterra, e outros, o correspondente à essa gastronomia informal eram (e são) os sanduíches em ambientes fechados dos quartos ou salas. Sobretudo depois que um aristocrata inglês, John Mantagu, conde da cidade de Sandwich, localizada no condado de Kent, e sendo um jogador de poker inveterado, bolou a solução de se alimentar sem sair do carteado: dois pedações de pão com uma fatia de carne assada ou rosbife dentro.

Vida que segue!