Artigos

Chocolate, chocólatras e infiéis

Vitrine na Rue de Rennes, em Saint-Germai-des-Prés
Vitrine na Rue de Rennes, em Saint-Germai-des-Prés

Chocolate, chocólatras e infiéis

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

Aproxima-se o Natal e embora a mesa natalina guarde vaga cativa para os perus e lombinhos, o chocolate é coadjuvante garantido no cardápio. Vejamos, então, um pouco do seu DNA.

Originário do México, os maias o preparavam de forma líquida (há um filme imperdível “Como Água para Chocolate”) ele foi levado para a Espanha, por Cortez, em 1528, que ensinou aos seus patrícios a melhor maneira de torrar as sementes. E servi-lo quente.

De lá, o chocolate viajou por toda a Europa, no século seguinte. E foi nessa época que a corte francesa foi apresentada à essa delícia e não parou mais de consumi-lo. Aí, claro, surge sempre o inventor que monta no cavalo encilhado. Em 1659, por exemplo, o comerciante David Chaillou abriu a primeira chocolateria de Paris. Fez tanto sucesso que o Rei Luís XIV lhe concedeu o privilégio (*) de vender chocolate por 29 anos!

Vida que segue. Desde o final do século passado os franceses (sempre eles!) deram um passo similar à indústria do vinho, com os seus varietais (no caso do vinho produzidos com uma só casta: só Merlot, só Chardonnay, etc) e passaram a produzir “chocolates de origem”, ou seja, elaborados a partir de um único tipo de semente de cacau. Essas sementes são exclusivas das maiores regiões produtoras do mundo: a Costa do Marfim, Gana, Equador, Camarões, Nigéria, Brasil e Indonésia, segundo dados da OMC de deste ano. Brasil. E pasmem, o Pará desbancou a Bahia (que sofreu o ataque da vassoura-de-bruxa em seus cacaueiros) e é, hoje, o nosso maior produtor.

Bom, por fim, vamos ao consumidor de chocolate. Estes se dividem em pelo menos quatro categorias: os chocólatras, os “heavy users”, os bissextos … e os “infiéis”, que são aqueles quetraem o chocolate por “qualquer” nutela, brownie de nescau, e outros genéricos do precioso produto extraído das sementes do cacau.

 (*) Os chocolatiers parisienses tiveram a ideia fabulosa de “pautar” o chocolate como iguaria da Páscoa-gourmet, juntando os seus dois símbolos. Vejam, como exemplo, a foto desta vitrine na Rue de Rennes, em Saint-Germai-des-Prés, fotografada por mim em Paris no longínquo 1966.