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Halloween: no Brasil não pegou

Halloween: no Brasil não pegou

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

Primeiro, porque o substantivo nem primitivo é: Halloween é a aglutinação das palavras “All Hallowws Eve”, ou seja, “Véspera do Dia de Todos os Santos”. E as datas estão juntas talvez até para exorcizar as bruxas do 31 de outubro.

Segundo, porque a origem dessa festa, propositalmente macabra, vem de longe. Ela surgiu com os celtas que habitavam o território que compreende, hoje, a Inglaterra e a Irlanda, e aonde há dois séculos a maioria das pessoas vivia nos campos, nas florestas e em aldeias. E lá, a morte era frequente sobretudo das mães, de parto. E isso explica o protagonismo da MADRASTA, personagem dos contos dos Irmãos Grimm, por exemplo, como Branca de Neve, João e Maria, etc, nos quais a figura da segunda mulher do pai é desenhada sempre pelo estereótipo da falsa mãe, muito perversa. Mas como não é pensável que essa orfandade inspirasse uma narrativa com a intenção de aterrorizar ainda mais as crianças, fica bastante claro que o objetivo era o inverso. Provocar uma catarse.

E tudo indica que na sequência, e ainda hoje em dia, sobretudo no Canadá, Irlanda, UK e nos EUA, a intenção embora menos freudiana continua com o mesmo viés: “desmoralizar” o medo dessa representação dos monstros da floresta: caveiras, aranhas, ratos, morcegos, vampiros, etc.

Há, ainda, uma curiosa lição a tirar dessa cerimônia: como a personagem “madrasta” era a personificação da bruxa, cabe a dúvida: a fada é sempre boa e a bruxa sempre é má?  Não necessariamente. Na estória da Bela Adormecida, como em outras, a vilã era uma fada que por não ter sido convidada para a festa da princesa Aurora, ficou com tanta raiva (e a raiva “entorta o comportamento das pessoas”) que começou a agir como bruxa. O que indica que no contrário sensu se uma bruxa se apaixonasse, o amor a faria compreender a bondade e a compaixão, e ela se tornaria uma fada. O problema é que as pessoas sentem medo das bruxas e não as convidam para o bem — querer!

Finalmente, as razões do mercado, já que os americanos não brincam em serviço (nem se divertindo): eles aproveitaram que Outubro é o mês da colheita da abóbora (além de maçãs e morangos), e elegeram essa “hortícola” o símbolo do Halloween. E mais: para não deixar as “mommys and daddys” de fora, destinaram a elas a tarefa de preparar doces horripilantes: olhos e dedos de bruxa, minhocas-gigantes, maças envenenadas (do amor?), pirulitos embrulhados em fotos de aranhas … 

Já os marmanjos aproveitam o embalo para encher a caveira (epa!) com drinques que lembram sangue, como na receita de um clássico coquetel: vinho tinto, ou rosé, suco de frutas vermelhas, licor de cranberry, e pedaços de laranja em forma de lua cheia.

E para sustentar que no Brasil é a mais fraca das festas importadas, recorro ao escritor e historiador britânico Arnold Toynbee, que dizia que os anglo-americanos têm a característica de quando a proposta é “se divertir”, o espetáculo pode ter graça, ou não, eles se esbaldam…

Reinaldo Paes Barreto é assessor da presidência do INPI