Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
A invenção da rolha de cortiça constitui uma das maiores conquistas enológicas de todos os tempos. Ela é atribuída ao monge beneditino francês Don Pérignon (1639-1715), que era o responsável pela vinha e pelos vinhos da Abadia d`Hautvilliers, no norte do país. Até àquela época, as garrafas eram tampadas com estopas embebidas em óleo ou azeite. E antes, no tempo dos egípcios, gregos e romanos, não havia sequer garrafas: o vinho era retirado das pipas por vasilhas de barro e colocado em ânforas e, de lá, “pescado” em canecas que eram versadas nas taças dos convidados.
Um corte no tempo: por volta de 1680, já existiam garrafas de vidro, mas muito finas e frágeis, e em vários formatos. A sua função era transportar o vinho das barricas até as mesas. O engenhoso D. Pérignon teve, então, a ideia de derreter cera de abelhas no gargalo das garrafas de seus vinhos (elaborados com as uvas da região) para assegurar-lhes uma melhor vedação. Ao fim de algumas semanas, no entanto, a maior parte das garrafas explodiu, deixando o monge perplexo. Mas logo compreendeu que o açúcar contido na cera das abelhas se derretia e provocava uma dupla fermentação.
Bingo! Estava descoberto o segredo do chamado método “champenois” de produzir espumantes, no caso o Champagne (*) para o qual muito contribuiu, também, um outro monge, Don Ruinart (**), que trabalhava junto com D. Pérignon. e cujo sobrinho, Nicolas, fundou mais tarde, em 1729, a Maison Ruinart. Mas essa dupla fermentação dentro da garrafa eleva a pressão interna a cerca de 5 a 6 atmosferas, iguais a um pneu de caminhão. Logo, ele precisava de algo mais resistente para conter toda aquela efervescência. Testou, então, a rolha de cortiça (vindas da Espanha) e colocou como “capuz” uma gaiola de arame. Deu certo. E mais ainda: por sorte dele e nossa, esse período coincidiu com a técnica de vidro soprado, cujos pioneiros foram os artesãos de Murano, perto de Veneza. Nascia o mais famoso produto vinícola do planeta, o Champagne (***).
Sobreiro
O seu nome botânico tem pedigree latino: “Quercus Suber”. E forma um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do continente europeu. Seu plantio se encontra basicamente em Portugal (Alentejo), Espanha e Grécia. Só que uma vez cortadas das árvores, as “capas” são submetidas a um longo processo de secagem e tratadas com fungicidas e só depois ficam prontas para serem recortadas e utilizadas nas garrafas. Só que para que a casca dessa árvore atinja a espessura ideal para a produção de rolhas, leva cerca de 25 anos! E uma vez cortada a primeira vez, demora outros 9 anos para ficarem com a espessura desejada, outra vez. Suas virtudes são inúmeras: elasticidade, aderência, compressibilidade, longevidade, além de ser natural e biodegradável.
Brinde: quando a gente abre uma garrafa de vinho, tranquilo ou espumante, quase sempre a rolha é mais velha do que o próprio vinho!
(*) Champagne em francês é masculino.
(**) Muito mais tarde, em 1729, um sobrinho desse segundo monge, Nicolas, fundou a Maison Ruinart, outra marca de altíssimo prestígio, até porque bem mais rara do que os demais champagnes.
(***) Desde 1889, o nome Champagne é uma AOC (em francês), a mais rigorosa Denominação de Origem em vigor no país, que só permite que seja chamado de Champagne o espumante produzido na região, e em 90% dos casos elaborado com duas uvas tintas, a Pinot Noir e a Pinot Meunier, e a branca, Chardonnay.
Santé!