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Escrever com Luz

Escrever com Luz

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

Dia 19 de agosto é o Dia Mundial da Fotografia, porque foi nesse dia de 1839 que o presidente da Academia de Ciências e Belas Artes de Paris apresentou a seus pares, em sessão solene, uma absoluta novidade criada pelo pintor e físico Louis Daguerre, ali presente: o daguerreótipo. 

Detalhe muito importante: diante do enorme impacto que provocou a sua invenção e da consciência que a sua descoberta iria mudar a vida das pessoas dali por diante, Daguerre negociou com o governo francês uma pensão vitalícia, e cedeu a patente do seu invento. E o governo francês decidiu oferecer a patente ao domínio público, como Patrimônio da Humanidade.

O processo consistia em fixar as imagens obtidas pelo direcionamento da luz através de um pequeno orifício em uma câmera escura, e essa luz projetava essas imagens em uma folha de cobre embebida em iodo, revestida por uma fina camada de prata. Por isso, o invento foi batizado de fotografia, palavra que vem do grego “fós” = luz e “grafis” = gravar, escrever.

O daguerrótipo fixava as imagens obtidas na câmara
escura numa folha de prata sobre uma placa de cobre

Mas em paralelo, e até antes mesmo de Daguerre, em 1826, um outro físico e inventor francês, Joseph Niépce, que também se dedicava a fixar imagens gravadas quimicamente de forma duradoura, produziu esta foto da janela da sua casa, considerada a primeira da história.

A foto de Joseph Niépce, considerada a primeira
da história

Resultado: os dois se associaram e começaram a comercializar o produto do seu invento (*). Mas o sucesso de vendas só veio, mesmo, quase 50 anos depois, e nos Estados Unidos, quando o empresário americano George Eastman fundou a Kodak, em 1888. E introduziu o filme em rolo e a produção de aparelhos fotográficos. Surgiram, na  sequência, as fotos coloridas, as máquinas portáteis e as fotos diferenciadas: os slides e os hologramas.

Mas a revolução mais significativa foi a digitalização dos sistemas fotográficos, a partir do final do século XX. A fotografia digital mudou o eixo da função da imagem. 

E a fotografia é, hoje, ao mesmo tempo, uma commodity “lato sensu” da vida em sociedade, e um patrimônio da memória afetiva individual ou coletiva. A selfie e os recursos da internet aproximaram a imagem produzida pelo clique dos smartphones no paradigma da própria telefonia móvel: a amplitude dos três “as”: anywhere, anytime, anyone.

O próximo passo é a fotografia produzida totalmente pela Inteligência Artificial.

(*) Em 1840 um outro francês, Louis Compte, capelão de um navio-escola de seu país, estava de passagem pelo Rio e deslumbrado com a luminosidade da cidade decidiu tirar da cabine o daguerreotipo que carregava consigo e registrar a paisagem. A foto causou tanto alvoroço que o imperador D. Pedro II, sempre atento às novidades “científicas”, se empolgou e encomendou o seu próprio daguerreotipo, tornando-se aos 15 anos o primeiro fotógrafo do Brasil. 

Reinaldo Paes Barreto também é assessor da
diretoria executiva do INPI