Artigos

Nem tudo acaba em pizza! (10 de julho Dia Mundial da Pizza)

Nem tudo acaba em pizza! (10 de julho Dia Mundial da Pizza)

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ

Confirmo: nem tudo acaba em pizza. E, às vezes, até ocorre o oposto: uma pizza bem feita recupera uma grande harmonia entre os humanos. Então, por que essa pacha? Por que, segundo uma “lenda urbana”, esta expressão vem da linguagem do futebol e nasceu a partir do seguinte episódio: na década de 60, alguns cartolas do Palmeiras se reuniram para resolver problemas do clube (em São Paulo, é claro) e passaram 14h seguidas discutindo. Por fim, exaustos e famintos (“ôrra, meu”) resolveram interromper as elucubrações e foram à pizzaria mais próxima, matar a fome. E pediram 18 pizzas gigantes — e muito chope. Não deu outra: as brigas e altercações de antes cederam lugar à gargalhadas, tapinhas no ombro e demonstrações de grande camaradagem. O repórter Milton Peruzzi, da Gazeta Esportiva, cravou então a seguinte manchete no dia seguinte: “crise no Palmeiras acaba em pizza!”

Bom, mas e a pizza mais famosa do mundo, a Margherita? Quem nos esclarece é o mestre J. A. Dias, em um livro com este título. A história eu conto: por volta de 1889, o rei Umberto de Savoia e sua mulher, a sofisticada rainha Margherita, foram veranear em Nápoles, como sempre faziam no mês de julho, e quiseram provar o famoso prato de massa que viam ser servido nas ruas e devorado com “lamber de beiços” pela população. Mas como não ficava bem a um casal real descer da carruagem e se servir com as mãos, como fazia “i ragazzi”, encomendaram ao cozinheiro do palácio uma réplica da iguaria. E o próprio, que conhecia um pizzaiolo bom de forno – Raffaele Esposito – repassou a encomenda. E o dito Esposito, talvez para se candidatar a um upgrade na Corte, em Roma, preparou uma pizza tradicional, mas cobriu a massa com muçarela, tomate e manjericão, ou seja, o branco, o vermelho e o verde da bandeira da Itália!

Bingo! A pizza é hoje um dos pratos mais vendidos no mundo e em novembro do ano passado realizou-se em Madri o World Pizza Summit, o maior congresso global do setor.

Quanto à origem do nome “pizza”, e como quase sempre acontece com o batismo dos pratos e drinques, há sempre mais de uma versão. Para alguns pesquisadores, a palavra “pizza” procede do alemão “bizoo”, que significa pedaço de pão. Já para outros, deriva da palavra grega “pitta”, que significa bolacha. Gosto mais dessa versão helênica, porque há três séculos antes de Cristo já os gregos costumavam acrescentar ao pão coberturas como queijo e tomate. E como o pão deles era parecido com o pão sírio que conhecemos hoje, redondo e chato como um disco, faz sentido ser chamado de bolacha.

Apogeu: em 2017 a Pizza Margherita foi tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade e as suas características têm que obedecer ao seguinte protocolo: quatro ingredientes básicos para a massa e quatro para o recheio. Farinha, água, sal e fermento no preparo e muçarela, tomate, manjericão fresco e óleo (azeite) de oliva para a cobertura. Tem, também, que ser assada em forno à lenha e o seu diâmetro só pode variar entre 28 e 31cm.

Meu recado: salvo como remédio para os portadores de anorexia, por favor não harmonizem a sua pizza com chope ou cerveja, a não ser que esteja na roda uma costureira para alargar a sua roupa lá mesmo. Pefira vinhos tintos leves ou, de preferência, vinhos brancos ou espumantes, porque a acidez destes últimos ajuda a digerir a gordura do queijo e da massa. E, depois, depois agradeça a São Benedito, padroeiro dos cozinheiros, estar vivo – e com bom paladar.

Reinaldo Paes Barreto é assessor da diretoria do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)