Artigos

A importância de voltar ao passado para entender por que o Brasil continua no Radar

A importância de voltar ao passado para entender por que o Brasil continua no Radar

Por Michelle Fernandes, presidente do Conselho Empresarial de Relações Internacionais e Comércio Exterior da ACRJ 

Até o início dos anos 90, na era Collor, pilhas e mais pilhas de documentos enchiam as mesas e o ambiente de trabalho dos profissionais de comércio exterior. Iniciava-se um novo tempo. O bloco econômico Mercosul recém-criado, em 1991, trazia muitas esperanças econômicas. O Brasil experimentava as compras no exterior. Os produtos importados chegavam ao Brasil em grandes quantidades, e não eram “Made in Paraguay” não tinham como origem o Paraguai. 

Em 2005, tive o primeiro contato com os BRIC após ler um livro do economista britânico Jim O’Neill. Até aquele momento, o acrônimo criado por ele em 2001 não era um acordo internacional. A escolha do nome e da ordem das letras foi proposital, pois soa exatamente como a palavra brick – tijolo, em inglês. O criador do termo acreditava que, em algumas décadas, esses países seriam a base da economia mundial, os tijolos com os quais a economia moderna estaria edificada.

Na época, a África do Sul ainda não fazia parte do grupo, integrando-o mais tarde e adicionando o “S” de South Africa ao acrônimo. Visionário e de olho nos números, Jim O’Neill juntou grandes futuras potências globais, que formavam mais de 40% da população mundial e possuíam milhões de pessoas sofrendo com a fome e a miséria.

Por outro lado, esses países apresentavam um ritmo altíssimo de crescimento, sucessivos aumentos no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no PIB (Produto Interno Bruto) e na renda per capita. Com a ascensão da Ásia, os países pertencentes ao acordo ficaram mais evidenciados, principalmente por estarem em fase de transição de países subdesenvolvidos para países em desenvolvimento. As economias emergentes se tornaram protagonistas no cenário mundial, fato relatado em 2008, no auge dos BRICS, pelo cientista político Fareed Zakaria em seu livro Best Seller, “O mundo pós-americano”. Era o fim do império econômico americano para a entrada do novo. Na época, a China dava as cartas, seguida da Rússia e do Brasil.

O tempo passou, as economias mudaram, a globalização mudou a maneira de pensar a economia e os mercados se diversificaram, mas o fato é que Jim O’Neill não estava errado. A China cresceu amparada em subsídios e vendendo produtos de baixo valor agregado. Ganhou força, robustez e investiu em tecnologia e patentes. Hoje, está no topo das relações comerciais. Tornou-se o principal e primeiro parceiro comercial do Brasil.

A Índia segue a mesma linha, já lidera na indústria farmacêutica, TI – tecnologia da informação e espacial e em outros segmentos, como o cinematográfico com Bollywood.

A Rússia, por sua vez, escolheu o conflito, busca expansão territorial e acaba deixando uma lacuna e interrogação no acrônimo, ficando impossibilitada de fazer negócios com diversos países no mundo, devido às suas sanções. O grupo dos BRICS atualmente vislumbra novos entrantes e se abre para novos países. Podemos dizer, que se atualiza dentro do novo cenário econômico global. 

A guerra comercial entre China e Estados Unidos, citada pelo cientista Fareed Zakaria, continua ditando o ritmo da ascensão dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.

No contexto internacional atual, a China busca outra nação para ampliar os seus negócios, tendo em vista que a relação comercial com os EUA está se deteriorando a cada dia.Diante do exposto, por que devemos acreditar que o Brasil está no Radar global?

Primeiro, não devemos falar no futuro, pois é algo que já está acontecendo. Já somos o principal parceiro comercial da China e estamos no G20, entre as 20 maiores economias do mundo. Devemos ampliar a visão, ter um olhar macro, ver o mundo e as relações internacionais como um todo.

O Brasil tem um atrativo logístico interessante, pois possui grandes dimensões continentais e uma costa marítima com 7.491 quilômetros de extensão. É um país que não tem guerras, somos considerados o amigo de todos. Nossas relações diplomáticas fluem bem. Temos muita mão de obra, ainda um pouco desqualificada, mas em preparação. Estamos trabalhando para resolver os problemas internos como o Custo Brasil, que iniciamos com a reforma tributária, um dos pilares importantes do comércio exterior brasileiro para ganharmos mais espaço no mercado internacional e atrairmos investimentos. Já identificamos que é extremamente importante termos segurança jurídica e política para grandes empresas se instalarem aqui e termos crédito mundo afora. 

Estamos passando por uma grande mudança de mentalidade, conseguimos, finalmente, enxergar o mercado externo e a cultura exportadora como excelentes oportunidades para os produtos manufaturados brasileiros.O nosso agronegócio vem ganhando força com a tecnologia, já somos referência em alguns segmentos. Os investimentos em infraestrutura logística vêm crescendo, amparados em nossa balança comercial superavitária.Por todos esses motivos, devemos acreditar que o Brasil se desponta e ainda está no RADAR global.

Artigo publicado originalmente no Última Hora on line

Michelle Fernandes é CEO Get Global Trading,
mediadora e professora na BSSP