Por Reinaldo Paes Barreto – membro do Conselho Empresarial de Cultura da ACRJ
Se alguém ainda duvidasse do prestígio que este hotel desfruta entre os cariocas e demais brasileiros, o título deste artigo já antecipa uma explicação: toda autoridade, cidade, bairro, monumento, instituição, etc, que “cai” no afeto da população ganha um diminuitivo, ou aumentativo, como apelido.
E agora, uma curiosidade: além da elegância e majestade de seu estilo, que quase lhe valeu a destruição(*), como veremos no final do artigo, inspirado no design de dois ícones da Riviera Francesa, o Negresco de Nice e o Carlton, de Cannes, na França, o Copa foi um dos responsáveis pela “apresentação” do carioca à praia. Dantes, havia o “footing” pela calçada e o mergulho no mar. Mas a curtição do “território democrático” da areia, não.
E como foi essa “apresentação”? Foi assim. Antes do hotel ser fincado na areia, o morador-visitante do Rio só ia à praia com receita médica, por conta do sol, do sal e do iodo, porque como bem observou o Maneco Müller – pseudônimo do Jacinto de Thormes, o pioneiro da coluna social do eixo Rio-São Paulo — “até então, a cidade era virada para dentro”. Ou seja, dava as costas para o mar. Os bairros da época eram São Cristóvão, Tijuca, Botafogo e Laranjeiras, tudo escondido, fingindo não ser daqui. O Palácio do Catete, por exemplo, símbolo máximo do poder porque ali pulsava a República, foi construído com as janelas voltadas para a rua (do Catete) e longe, muito longe da deslumbrante paisagem da Baía e do Pão de Açúcar que, simplesmente, não era vista, ficava longe, separada do alcance visual de seus ilustres moradores (os presidentes e suas famílias) por um imenso jardim, onde as árvores serviam de muro para tapar o cartão-postal.
Com a inauguração, em agosto de 1923 e imediata ocupação por hóspedes, sobretudo artistas estrangeiros que pela manhã atravessavam a rua e iam pegar “um bronze” na praia, antes e depois de um mergulho, o carioca começou a imitá-los e rapidamente a moda pegou. As praias da orla da Zona Sul passaram a ser e são, hoje, a “ágora” do morador do Rio, que ali se banha, se exercita, namora, joga esportes de bola, “conversa com seus problemas” e, enfim, socializa com os nativos e gringos, e na virada do ano se deslumbra com a energia de som e luz dos fogos, da música e da torcida por “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender…”
E, no entanto, o Copa foi salvo por um triz.
(*) A história: em 1986, atravessando sérias dificuldades financeiras, a segunda geração de proprietários (os Guinles) cogitaram demolir a parte de trás do Copa — o anexo e o teatro — e vender o espaço para a construção de lâminas comerciais (!!!). E o hotel no seu complexo arquitetônico SÓ foi salvo pela ação veloz e radical do então presidente do Iphan, o cultíssimo curador de arte Ângelo Oswaldo e pelo decisivo apoio do Ministro da Cultura nesse período, o brilhante Celso Furtado, (detalhe: nenhum dos dois carioca) que tombaram o imóvel todo.
E pasmem: sabem quem era a favor da demolição? O antropólogo e escritor Darci Ribeiro, que mesmo sendo um pensador profundamente brasileiro, estava contaminado ideologicamente por um nacionalismo delirante e xenófogo, e “ acusava” o hotel de ser um modelo superado do estilo francês, pastiche de uma Europa decadente… aquele papo!
Mas Deus, além de brasileiro morou em Copacabana logo depois do 7º dia…
Publicado no site da Câmara Portuguesa do RJ
foto: Rafael Pereira/Diário do Rio