Por Michelle Novaes – vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro
O mercado de trabalho sempre foi marcado pela predominância dos homens na linha de frente. Eles ainda ocupam a maioria dos postos, mas há áreas onde essa proporção está sendo alterada, como na liderança ESG. Quando se fala de sustentabilidade, inclusão e diversidade, são as mulheres que começam a dar as ordens no mundo dos negócios.
Um recente estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) comprovou que elas têm liderado, majoritariamente, a implementação de práticas relacionadas ao ESG nas organizações. Nas empresas brasileiras com alto desempenho na agenda, 72% têm uma ou mais mulheres em seus conselhos administrativos, e 52% contam com diretoras femininas.
As mulheres têm se destacado por serem mais humanistas e afetivas. No centro dessas transformações está o inexorável aumento da emancipação feminina, com a conquista cada vez mais acelerada de direitos até a chegada às esferas de poder e de tomadas de decisão.
Não foi por acaso que o empoderamento das mulheres tornou-se um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU – tais como erradicar a pobreza, a fome e assegurar educação inclusiva – que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030.
Alcançar o 5° Objetivo, que diz respeito à igualdade de gênero, é primordial para que todos os outros sejam alcançados. Uma vez que a perspectiva de gênero é considerada transversal à toda Agenda 2030 e evidencia que a igualdade de gênero tem efeitos multiplicadores no desenvolvimento sustentável.
As mulheres fazem parte do grupo mais vulnerável em termos de pobreza monetária, tempo, sobrecarga de trabalho não remunerado e de cuidados e inserção precária no mercado de oportunidades. Dadas essas desigualdades estruturais, elas também são mais suscetíveis do que os homens, de um modo geral, ao sofrimento provocado pelas mudanças climáticas.
As mudanças climáticas têm impactos diretos sobre os recursos naturais essenciais para a vida diária, como água, peixes, fontes de energia disponíveis etc. Quando esses recursos são escassos, a responsabilidade cai em geral sobre as mulheres. Hoje, na maioria das sociedades, incluindo a brasileira, elas gastam o dobro do tempo dos homens realizando atividades domésticas e de cuidado não remuneradas.
As mulheres estão inegavelmente presentes em todos os aspectos da dimensão ESG. Elas administram negócios socialmente responsáveis, investem em fundos que refletem seus valores e emprestam dinheiro para apoiar causas nas quais acreditam.
É, portanto, vital que as discussões sobre o futuro do ESG não apenas apliquem um olhar e experiência de gênero, mas garantam que a busca por essa equidade seja compreendida como um componente central para as soluções propostas pela ONU.
É importante saber onde estamos agora. Apesar de a mulher constituir grande parte da força de trabalho, principalmente nos países desenvolvidos, segue muito baixo seu percentual em cargos de alta liderança e gestão das empresas, como CEOs e diretorias. Essa é uma questão estratégica importante, pois a falta de diversidade na sala de reuniões pode resultar em decisões inadequadas.
No Brasil, onde as mulheres são maioria na população, sua remuneração é 20,5% menor do que a masculina, segundo o IBGE. Na esfera pública, elas ocupam 16,8% das vagas, nas Assembleias Legislativas 18% e, na Câmara Federal, 17,7% das cadeiras.
As mulheres em cargos de liderança têm uma missão muito importante, e não raramente árdua. Elas assumem funções para proteger sua posição no mundo, desde a promoção de uma nova cultura na empresa até a defesa de políticas governamentais. Está na visão das mulheres parte das pautas sociais no país. Elas sabem, mais do que os homens, que o Brasil precisa avançar em soluções para problemas como desigualdade de salários, violência doméstica, falta de acesso a direitos reprodutivos e à educação. São temas que impactam diretamente a vida das brasileiras.
O sucesso do investimento em ESG – com o tremendo papel que as mulheres conseguiram – impacta muito. Mostra, acima de tudo, que o potencial do público feminino é ilimitado em sua capacidade para reconstruir, em bases muito mais saudáveis e felizes, o futuro da sociedade.
Michelle Novaes é tabeliã substituta e CEO do 15º Ofício de Notas
Artigo publicado no Estadão.com