Menu fechado

Artigos

O Rio de Janeiro continua lindo

O Rio de Janeiro continua lindo

Por Washington Olivetto (*)

Meu filho Theo entrou na faculdade. Foi aprovado para estudar cinema na cidade de Orange, pertinho de Los Angeles. O garoto vai pra Califórnia, mas antes disso foi pro céu.

Ele e mais quatro amigos de escola — dois franceses, um australiano e um brasileiro — resolveram fazer uma viagem comemorando a aprovação dos cinco nas universidades que escolheram. Elegeram o Rio de Janeiro e me encarregaram da hospedagem e da programação, coisa que fiz com prazer e a ajuda de alguns amigos. Procurei desfazer, principalmente nos garotos estrangeiros, um pouco da péssima imagem que o Brasil vem construindo no exterior nos últimos anos.

Já na sexta-feira que chegaram ao Brasil, os meninos foram recebidos pela Lucia Gomyde, que foi babá do Theo, virou parte da família e hoje é quem cuida das nossas coisas no Rio de Janeiro. Feliz da vida com o sucesso escolar de seu pupilo, Lucia deu boas-vindas a todos com deliciosas empadinhas de camarão, que pedi pra ela encomendar no Caranguejo, de Copacabana. À tarde, caminharam por Ipanema, Leblon e Arpoador e, à noite, foram jantar no Satyricon, onde encontraram dois amigos que conhecem o Theo desde a época em que ele era um bebê no colo da Lucia: Jorge Ben Jor e seu filho Tomaso.

No outro dia, levados pela Lene De Victor, viúva do portelense histórico Maurício Mattos, foram à feijoada da Portela. Ficaram das 14h às 22h, tomando goles de caipirinha e cerveja, saboreando o feijão da Tia Surica, ouvindo os sambas e admirando as passistas, da Portela e da Mangueira, a escola convidada pela Águia para aquele sábado.

No domingo, os garotos acordaram “culturebas”: visitaram o Museu de Arte Moderna, o Museu da República e o Museu de Arte Contemporânea. Ainda encontraram tempo para uma paradinha num rodízio de carne tipicamente brasileiro, o Fogo de Chão, em Botafogo.

Na segunda-feira, foram à praia no Posto 9. Aproveitaram a praia vazia, mergulharam, comeram sanduíches na Barraca do Uruguaio e, no fim da tarde, completaram a refeição no Bracarense. À noite, ficaram em casa assistindo à série “Lei da selva”, sobre o jogo do bicho, desde o início, com o Barão de Drummond, até as milícias de hoje.

Terça-feira foi dia de turismo obrigatório e gastronômico: foram ao Cristo Redentor e ao bondinho do Pão de Açúcar. Jantaram no Sud, da Roberta Sudbrack, com direito a papo com ela. Saíram de lá maravilhados.

Quarta-feira deu praia de novo. Jogaram um pouco de frescobol, que ficou conhecido aqui em Londres por causa da loja Frescobol Carioca. Observaram com inveja a habilidade dos surfistas do Arpoador e fizeram um almoço/jantar no quiosque de Lamare, quase em frente ao Hotel Fasano.

Quinta-feira teve Jardim Botânico com suas palmeiras-imperiais, Museu de Arte do Rio e Museu do Amanhã. À noite, foram ouvir samba no Beco do Rato, que, mesmo sem o Mosquito e a Teresa Cristina, estava sensacional. Ficaram até o último freguês.

Na sexta-feira, foram ao Museu do Futebol, no Maracanã, depois aproveitaram que estavam lá pertinho para comer no Salete, na Tijuca. Adoraram a Sílvia, herdeira da casa, as famosas empadas, o arroz de camarão e o de polvo. À noite, foram ao Vivo Rio, para o show do Caetano.

Amaram o espetáculo, ficaram relembrando o repertório a madrugada inteira e tiraram o sábado pra descansar, porque haviam sido convidados pela Paula Lavigne para uma festa às 23h em homenagem ao Caetano, que encerrava, naquele dia, a primeira etapa da turnê “Meu coco”.

Foram dias absolutamente inesquecíveis para aqueles rapazes, que ainda tiveram, no meio de tudo isso, um café da manhã no Talho Capixaba, uma visita à Livraria da Travessa, uma passada no Aprazível, algumas paqueras correspondidas, uma bela caminhada por Copacabana com direito a uma paradinha no Copa, um almoço com o Lulu Santos e o Clebson no Nido e um jantar no Margutta com o Jorge Ben Jor.

Depois de tantas maravilhas que só o Rio pode oferecer, voltaram para a vida real, ou seja, para Londres, onde, no dia 10 de abril de 1970, John Lennon disse, premonitoriamente, que o sonho acabou.

Ficaram na saudade e com uma sensação que Theo resumiu bem quando perguntei o que eles tinham achado da viagem:

— Pai, é simples: ainda nem começamos a faculdade e já fizemos uma pós-graduação de vida.

(*) O artigo na íntegra publicado no Jornal O Globo dia 4/7/2022 –  https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/o-rio-de-janeiro-continua-lindo.html