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ACRJ vai entregar documento do movimento conjunto do setor de transporte para autoridades do Rio

A Associação Comercial do Rio de Janeiro reuniu, dia 19 de outubro, representantes das principais empresas que atuam na cidade para discutir a maior crise de mobilidade urbana do Rio nos últimos 50 anos. O seminário Colapso da Mobilidade Urbana: Causas, Efeitos e Soluções foi organizado pelos presidentes dos Conselhos Empresariais de Competitividade e Ambiente de Negócios, Irini Tsouroutsoglou, e de Logística e Transporte, Delmo Pinho.

No evento ficou decidido que será iniciado um movimento conjunto do setor, que resultará em um documento oficial a ser encaminhado pela ACRJ às autoridades do Executivo e do Legislativo estadual e municipal, listando causas e efeitos do atual panorama de degradação dos sistemas e seus reflexos no cotidiano dos passageiros. O movimento conta com lideranças das concessionárias de transportes públicos do Rio de Janeiro e instituições do setor, como Rio Ônibus, Fetranspor, SuperVia, MetrôRio e CCR Barcas.

“O principal objetivo do encontro é discutir as causas, efeitos e soluções para que o transporte público do Rio tenha um desempenho melhor e a população possa começar a ver mudanças”, comentou o presidente da ACRJ, José Antonio do Nascimento Brito, que abriu o evento junto com vice-presidente dos Conselhos Empresariais da Associação Comercial. Para Alberto Blois, “essa é uma iniciativa, com a criação de várias propostas, que certamente vai contribuir para a resolução das questões que o setor enfrenta”.

Delmo Pinho avaliou que o problema da mobilidade urbana não se restringe ao Rio de Janeiro. “A situação de crise da mobilidade urbana é um problema do mundo. O Rio de Janeiro é o berço da engenharia de transporte do Brasil. A primeira faixa seletiva para ônibus no país foi feita no Rio, na Avenida Brasil, na década de 70”, ressaltou. Ele defendeu a ação e atuação conjunta das entidades e dos órgãos públicos para que se tenha projetos de grande viabilidade e durabilidade.

A presidente do Conselho de Competitividade e Ambiente de Negócios da Associação lembrou a importância da bilhetagem eletrônica para a mobilidade urbana. “A bilhetagem eletrônica é uma ferramenta fundamental, uma política social para uma integração ampla, envolvendo todos os municípios da região metropolitana. Auxiliando a mobilidade urbana, compreendendo todos os modais”, afirmou Irini Tsouroutsoglou.

A subsecretária de Mobilidade e Integração Modal do Estado do Rio de Janeiro, Paula Azem, informou que, apesar da flexibilização e do avanço da vacinação, não houve a retomada da demanda de passageiros pré-pandemia em função, entre outras questões, do home office, não retorno total das aulas presenciais e também por causa do número de desempregados. “Hoje, a queda é de 50% no metrô, 45% nos trens, 70% nas barcas e 25% nos ônibus intermunicipais”, destacou

Paula Azem aproveitou para anunciar que, em breve, será realizada a concorrência para a contratação da empresa que fará a modelagem da nova licitação do sistema aquaviário.

Para a secretária Municipal de Transportes do Rio, Maína Celidonio, já existia uma queda de demanda antes da Covid-19. Ela reforçou que o setor é um serviço essencial. “E se visto como essencial é preciso que o setor público tenha capacidade de garantir a continuidade e a correta prestação desse serviço. Achamos que como o sistema, o contrato, está estruturado, hoje, não garante ao setor público o controle e nem a tranquilidade em relação a isso”, destacou.

Segundo ela, essa falta de controle não vem de um esforço e da vontade do setor público, mas sim de um ambiente de pouca transparência, baixa capacidade de fiscalizar, de auditar as contas. O que o município persegue é sanar a questão da transparência com a licitação da nova bilhetagem.

Maína Celidonio anunciou que tem nova licitação para o sistema BRT com um modelo novo, com maior divisão de responsabilidades, para fim de novembro ou dezembro, para locação de frota e para operação.

O presidente da Fetranscarga, Eduardo Rebuzzi, reforçou a importância da participação no seminário porque “há uma preocupação com a sociedade e para os negócios com a fragilidade do nosso sistema de transporte de pessoas na região metropolitana e na cidade do Rio de Janeiro”.

O presidente do Rio Ônibus lembrou, durante o seminário, a situação no município do Rio. “Sabemos que a Prefeitura está empenhada em desenvolver soluções, mas o sistema de ônibus da cidade do Rio precisa de ações urgentes e efetivas. O colapso se reflete no fechamento de 16 empresas desde 2015, na demissão de 21 mil rodoviários e na grave realidade cotidiana da população nos pontos de ônibus. Este movimento que estamos formalizando hoje é de máxima importância e relevância, já que toda a mobilidade urbana vive um momento de ameaça e crise acentuada”, afirmou João Gouveia.

“A crise sem precedentes do transporte coletivo demanda ações urgentes e imediatas. Subsidiar a passagem do trabalhador é política pública de primeira necessidade nesse momento de retomada”, defendeu o presidente do MetrôRio, Guilherme Ramalho. Ele enfatizou que o seminário é o primeiro evento em que todos os modais estão reunidos.

Marcelo Feitoza, diretor da SuperVia, disse que são necessárias ações emergenciais e que os recursos e ativos sejam usados de maneira inteligente. “Que gere riqueza e faça o Rio de Janeiro voltar a crescer. Não dá para imaginar como se usa mal o modelo ferroviário, que alimenta os outros modais”, reafirmou. Para ele não existe uma política integrada desse serviço e frisou que a SuperVia está disposta a discutir essas questões mais profundamente.

João Daniel Marques da Silva, presidente da CCR Barcas, lamentou o cenário do transporte aquaviário. “A situação foi evoluindo e hoje a gente tem o modal com maior avaria, uma perda de demanda na casa de 70%, ou seja, operando com cerca de 18 mil passageiros por dia, sendo 9 mil pessoas se deslocando na ida e 9 mil na volta”, reforçando que o faturamento em 2020 foi R$ 60 milhões e que em 2021 deve chegar a R$ 30 milhões. Ele garantiu que a CCR Barcas não vai descumprir o contrato de concessão. “Vamos cumprir até o seu final, que é em fevereiro de 2023”.

“É a primeira vez que reunimos todos para apresentar essa situação de crise que estamos vivendo”, comentou Armando Guerra, presidente da Fetranspor. De acordo com ele, já foi anunciada a demissão dos rodoviários, dos prejuízos, da perda de receita do esgotamento das empresas, o que limita a retomada da economia. “O colapso que está sendo anunciado, ele não ocorrerá por uma de morte súbita. Ele vai ocorrer como uma doença crônica, que vai minando a resistência de um paciente e o debilitando permanentemente. Politizar, judicializar e não fazer nada para apoiar o setor, traz consequências dramáticas para o cidadão fluminense e é um fator limitador do nosso crescimento”, 

O presidente da NTU, Otávio Vieira, falou sobre a importância do debate nesse momento difícil. “O debate é importante no momento que o setor passa por sua maior crise”, enfatizou.

Roberta Marchesi, diretora-executiva da ANPTrilhos, revelou que houve uma retração com mais de 50% nos últimos dois anos em relação a 2019. “Menos 57% de março a dezembro de 2020 e menos 51% de janeiro a setembro de 2021. A pandemia trouxe alterações econômicas e sociais permanentes, que estão alterando padrões de comportamento social, com impactos, dentre outros, sobre a mobilidade urbana”, finalizou.

O diretor da CNT, Bruno Batista, destacou que houve uma redução de 35,6% de passageiros pagantes e defendeu uma série de ações. “Implantação de redes modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho, sendo mais flexível para os usuários em relação ao acesso, utilização e pagamento”, frisou, entre outras iniciativas.

Francisco Satiro, advogado e professor da USP, avaliou que a crise da Covid deixou claro que é preciso mudar as regras. “É preciso repensar a relação estado e operador, repensar a política de investimentos em infraestrutura. Demandam solução rápida para a sobrevivência do setor”, disse.

“Em meio à crise econômica no setor de transporte, a negociação antecedente, prevista em lei, pela mediação, pode ser um alívio para reorganizar o setor”, comentou o advogado, sócio do Mubarak Advogados, Elias Mubarak.

Para assistir a transmissão do seminário na íntegra, acesse Canal ACRJ Divulga no YouTube (acesse aqui).