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LIÇÕES PARA O “NOVO NORMAL”

LIÇÕES PARA O “NOVO NORMAL”

Por Thaís Chouim (*)

2020 foi um ano que não esqueceremos, a COVID-19 emergiu como uma ameaça à saúde pública em todo o mundo. E esta não é necessariamente uma ameaça tão inesperada, observando a lista de surtos epidêmicos de doenças infecciosas que ocorreram em um passado recente, temos: a Encefalite Espongiforme Bovina em 1986, a Gripe Aviária em 1997, a SARS em 2002, a Gripe Suína em 2009 e o Ebola em 2014. Uma característica que elas têm em comum? Todas trouxeram à tona a necessidade de termos um cuidado sanitário cada vez mais eficiente.

De fato, o novo coronavírus trouxe muitos desafios sociais, econômicos e políticos. Estamos experimentando o impacto sem precedentes, não apenas na saúde humana, mas também nas economias dos países ao redor do mundo. Com milhões de casos e centenas de milhares de mortes relatadas, COVID-19 é uma das crises de saúde mais importantes de nosso tempo e está transformando a forma como todos nós abordamos a segurança sanitária, levando a criação de um diferente padrão de comportamento, um “novo normal”.

Muitas empresas sucumbiram aos efeitos da pandemia do coronavírus, o que levou a redução dos níveis de produção, do quadro pessoal, dos salários, das jornadas de trabalho e até suspensão dos contratos. A rotina de trabalho foi completamente afetada pela necessidade de adoção de novos protocolos sanitários e medidas de prevenção.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da COVID-19 nas Empresas, apurados na segunda quinzena de agosto de 2020, entre as medidas de prevenção da pandemia foram relatadas por 93,1% das empresas a realização de campanhas de informação e medidas extras de higiene, 28,6% mudaram o método de entrega, 25,7% adotaram o trabalho remoto, 20,1% anteciparam férias dos funcionários e 23,8% adiaram o pagamento de impostos.

Pode-se entender que a pandemia acabou por acelerar o processo de transformação cultural e digital. Na China, curiosamente também o local de origem da crise atual, o ideograma para a palavra crise é composto pelas palavras risco e oportunidade (crise = risco + oportunidade).Por sobrevivência ou em busca de crescimento, as empresas inovaram e utilizaram a tecnologia a seu favor, foram desenvolvidos novos canais, diferentes formas de atuar, processos e parcerias inovadoras, que representaram até uma quebra de paradigmas culturais para muitas.

A pandemia mudou a maneira como usamos a tecnologia, desafiou nossas visões do mundo, instituiu novos valores, e nos ensinou a redefinir prioridades a fim de prevenir ou nos preparar para novas crises. À medida que avança, intensifica e torna mais urgente a necessidade das empresas repensarem e reconfigurarem seus negócios para o “novo normal”. Sem dúvida, algumas lições já foram aprendidas, mas ainda há muito espaço e oportunidades que podem trazer melhores práticas e preparar de forma mais completa as empresas para o “novo futuro”.

É importante que a mudança cultural não seja um movimento estanque, ela deve ser, em ato contínuo, parte fundamental do posicionamento e de suas ações estratégicas.

Esta pandemia fez com que conhecêssemos uma nova realidade. Precisamos nos preocupar não só em manter as intervenções sanitárias adotadas, mas sempre considerar melhores abordagens e estratégias. Embora a necessidade do distanciamento social provavelmente recue lentamente, a boa prática exigirá atenção crescente e contínua aos protocolos sanitários. 

Com o propósito de voltar ao trabalho e, ao mesmo tempo, garantir a saúde e a proteção dos trabalhadores e contratados, as empresas adotaram medidas de segurança alinhadas com as recomendações do governo. A importância em se ter esse cuidado permanece central, pois a doença persiste ativa, cinética e ameaçadora. Este cuidado será igualmente importante, senão mais, à medida que a tempestade diminuir.

Não há espaço para compartimentarmos a COVID-19 e esquecermos as medidas adotadas quando a pandemia acabar. O desenvolvimento e a educação profissional contínua têm um papel fundamental na manutenção deste cuidado, e devem incluir a adoção de um programa de controle sanitário mais amplo, que considere a certificação e monitoramento do estabelecimento e de seus colaboradores. Os procedimentos operacionais padrão e os manuais de risco deverão ser desenvolvidos com estratégias de gerenciamento proativas.

Considerando este “novo normal”, é fundamental para auxiliar na recuperação econômica das empresas que o governo e as instituições financeiras instituam linhas de crédito específicas para apoiar a implementação e manutenção das medidas de segurança sanitária.

A gestão da qualidade deve envolver um conjunto de medidas a serem implementadas com o objetivo de minimizar os riscos à saúde e à segurança e, envolvem a adoção de controles sanitários qualificados, para os quais muitas empresas ainda não estão preparadas. As empresas precisam ter planos rápidos e consistentes para lidar com a situação. A segurança do seu ambiente de trabalho não afeta apenas a qualidade dos seus resultados, é um reflexo direto da cultura e dos valores da sua empresa. Como consequência de condições inseguras de trabalho, podem ocorrer interrupções em toda a cadeia produtiva e, principalmente, afetar a forma como seus clientes o percebem.

AÇÕES PREVENTIVAS X AÇÕES REATIVAS

No Brasil ainda há empresas que agem de forma reativa diante das regulamentações e exigências dos órgãos sanitários.Os Programas de Autocontrole (PAC) constituem um conjunto de medidas preventivas que tem por objetivo a detecção e a correção de problemas antes da percepção de seus efeitos.

A implementação de um programa de autocontrole ajuda a mitigar os seguintes riscos:

  • Adoção de ações corretivas não planejadas e ineficientes;
  • Não adequação às normas sanitárias, possibilitando a ocorrência de infrações e interdições;
  • Desvalorização da imagem da empresa perante os colaboradores e demais stakeholders;
  • Aumento da perda de produtos, prejudicando o resultado operacional;
  • Agravos à saúde dos colaboradores.
  • Diminuição da percepção de valor e abandono de clientes;

Esta metodologia é aplicável nos diversos setores do comércio, indústria e serviços e deve ser encarada como um investimento, com potencial de gerar retorno financeiro e aumento na percepção de valor para a empresa à medida que minimiza a ocorrência de eventos negativos.

O QUE VOCÊ PODE FAZER AGORA

Identifique quais percepções organizacionais o processo de crise forneceu para ajudá-lo a criar estratégias e ações que vão capitalizar a oportunidade de transformação e adequação.

Possua uma gestão proativa de desempenho, com uma compreensão clara da cultura e práticas de saúde e segurança sanitária, promovendo um ambiente de trabalho seguro e saudável.

Potencialize sua equipe de gestão de crises para criar planos de contingência que mobilizem seus esforços de resposta no início de eventuais crises futuras.

Defina a segurança sanitária como um pilar de qualidade da sua empresa, com a implantação de procedimentos operacionais especializados e manuais de risco. Aumente assim a percepção de valor dos clientes sobre a sua marca.

Certifique-se de que seus fornecedores compartilham a mesma abordagem rigorosa para proteger funcionários e contratados. É importante reconhecer que, assim como a força de trabalho interna, as empresas contratadas que acessam as instalações deverão adotar as mesmas políticas, e seu cumprimento pode representar um desafio ainda maior.

Adote a execução de auditorias sanitárias periódicas para garantir a adequação de seus processos e propiciar a correção de eventuais desvios que possam estar ocasionando perdas operacionais ou riscos sanitários.

Busque o apoio de uma consultoria especializada em protocolos sanitários e capacitação técnica para ajudá-lo na missão de mitigar os riscos relacionados à segurança sanitária.

Essas ações propiciarão que a sua empresa esteja em total conformidade legal e vão ajudar não só na prevenção de perdas financeiras e de imagem, mas também no aumento da qualidade sanitária do ambiente de trabalho, de seus produtos e serviços e da percepção de valor de seus clientes.

Em um curto período, conquistamos uma consciência global, reiteramos a importância de um simples ditado, “é melhor prevenir do que remediar”, que preparou a humanidade para lutar e combater esta pandemia. Ressignificamos o que pensamos sobre saúde e nos preparamos para a doença. Estamos tendo a oportunidade de melhorar nossas instalações e infraestrutura e, acima de tudo, aprender a estar mais bem preparados para o futuro.

(*) Diretora-técnica e CEO da empresa Confiance Segurança Sanitária. Doutora em Biologia Parasitária pela Fundação Oswaldo Cruz.