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Homenagem a Marcílio Marques Moreira

“No dia 7 de maio de 1991, a caminho de completar 60 anos, no seu alto posto na Embaixada Brasileira em Washington, Marcílio recebe um telefonema de um ministro do Governo Collor, sondando-o, em nome do presidente, se ele aceitaria o convite para ser o ministro da Economia, Fazenda e Planejamento.

Seguramente, por honrosa que fosse a lembrança do seu nome, não poderiam haver circunstâncias mais difíceis para aceitar o desafio. O Governo Collor, desde o primeiro momento, era um retrato de contradições na área econômica. O seu discurso de posse, costurado pela pena de dois brilhantes Embaixadores – José Guilherme Merquior e Gelson Fonseca – era uma profissão de fé sócio liberal. Sua prática, no dia seguinte, não poderia ser mais contrária a isto, com o intervencionismo, congelamento e pacote de medidas de impacto.

Enquanto essas medidas se desgastavam, e o país em vez de se beneficiar afundava-se no desespero e desencanto em relação ao futuro, o Governo voltou a pensar no social-liberalismo, herdeiro do pensamento do grande Francisco Clementino de San Tiago Dantas, e foi buscar Marcílio, seu mais devoto seguidor.

Marcílio teve uma hora para decidir. Ligou para a mulher, companheira de vida inteira, das lutas diárias , do presente. Ligou para a filha Rosa, o futuro, a esperança e ligou para a mãe de 93 anos, conselheira, a experiência vivida, que muito incisivamente o instou a aceitar. Pelo Brasil. Ela, esposa de um diplomata que havia estado no posto na Europa durante as aflições da segunda guerra mundial, que bem sabia que sem homens de qualidade um país não progride. E ninguém de maior qualidade para comandar a economia naquele momento do que Marcílio.

Marcílio reuniu a melhor equipe. Marcílio ouviu Maílson da Nóbrega e seus antecessores que conheciam a máquina. Marcílio estabeleceu um espírito de solidariedade entre os membros da sua equipe, que mais tarde foi estendido a toda equipe ministerial, no chamado Pacto de Governabilidade, mantendo o time unido num governo que a cada dia perdia apoio, até a renúncia do presidente.

Foi leal ao Brasil, ao Governo e à transição democrática que se seguiu. Praticamente os novos ocupantes mantiveram ou promoveram a postos-chave, a maioria da sua equipe econômica, que tão bem deu continuidade à reconquista da credibilidade e à doma da inflação.

Discreto, Marcílio não escapava de aplausos ao sair na rua com a inflação a cada mês declinante.

São momentos feitos aquele na vida de um país que hoje nos servem de esperança. Procuramos outro Marcílio. Não um D. Sebastião místico, ou um rei Arthur que saia das brumas de Avalon, “Rex quondam, rex futurus”. Um homem real.

Como retratado numa caricatura da época um maitre de restaurante afixa um menu na porta: “Hoje feijão com arroz à la Marcílio Marques Moreira”. A volta do bom senso, da simplicidade, da sabedoria. Marcílio saiu consagrado e seu colega de Ministério, e mais tarde sucessor Fernando Henrique Cardoso, com a brilhante equipe de economistas, veio a implantar o bem sucedido Plano Real.

O IHGB, do qual ele e sua esposa D. Maria Luisa, são membros, sente-se honrado em contar com este quadro muito especial no seu elenco.  E festeja neste 25 de novembro os seus 89 anos tão profícuos.  

Retornando à vida empresarial Marcílio exerceu com brilho a Presidência da ACRJ por dois mandatos.”

Artigo de José Luiz Alqueres, Grande Benemérito da Associação Comercial do Rio de Janeiro, sobre o presidente do Conselho Empresarial de Políticas Econômicas da ACRJ, Marcílio Marques Moreira