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Para Monica de Bolle, “o fim da pandemia ainda está longe”

A economista e professora da School of International Studies da Johns Hopkins University, nos EUA, Monica de Bolle, prevê sequelas graves a longo prazo na sociedade e na economia devido à crise sanitária. “Nós estamos muito longe do fim da pandemia. Pelos artigos científicos publicados, as sequelas da doença podem ser muitas, de longo prazo e  permanentes, nos que apresentaram casos graves e severos e também nos moderados.  Muitas pessoas podem não mais participar da força de trabalho. O que isso significa na prática é que, em termos médicos, a pandemia acaba um dia, mas, em termos de reflexos sobre a economia, vai permanecer. Para a economia mundial tem efeitos grandes, principalmente nos países, como Estados Unidos, Brasil e Índia, que têm epidemias descontroladas. O custo vai ser alto”, afirmou.

A opinião foi compartilhada com especialistas na reunião virtual do Conselho Empresarial de Políticas Econômicas da ACRJ, realizada dia 15 de outubro. “Não há alento para a economia mundial sem o fim da pandemia”, ressaltou ainda. Monica de Bolle descarta ajuste na política fiscal nesse momento e considera a necessidade de uma flexibilidade maior no pensamento sobre como se conduz a economia.

Segundo ela, o custo da pandemia nos EUA será equivalente a 90% do PIB do país, ou seja, US$ 16 trilhões. Monica de Bolle explicou que a situação da doença é dramática para os americanos. Estudos revelam que,  do ponto de vista da saúde e com um olhar otimista, a pandemia só deve começar a arrefecer em meados de 2021.

 “No Brasil, a epidemia está descontrolada também. Me preocupa demais porque não tem rumo e apenas uma política, que é o auxílio emergencial”, afirmou.  Monica de Bolle destacou que a economia brasileira está sustentada, principalmente, por esse programa. “Se o auxílio emergencial acabar e não tiver nada para substituir, todo mundo pode ter certeza, que tudo o que estamos vendo nesse momento, some. Qualquer indício de retomada econômica que estamos vendo agora vai sumir”, destacou. Nos Estados Unidos, em países europeus e outras partes do mundo haverá um pacote de estímulos de sustentação das pessoas.

De Bolle acredita que o déficit e a dívida vão subir, mas que a taxa de juros deve permanecer baixa no Brasil. No entanto, ela explicou que serão precisos ajustes nos próximos anos. Sobre a inflação, prevê que não será tão pressionada, mesmo com o aumento de preços dos alimentos e o câmbio. Além disso, lembrou que não há “inflação de salários”, que é a causa principal de qualquer processo inflacionário. “Pelo contrário, o mercado de trabalho está aí com muito desemprego”, reforçou.

O presidente do Conselho, embaixador Marcílio Marques Moreira, advertiu que o grande problema é com as transições. “Sempre difíceis e custosas e que, aqui no Brasil, a exemplo de outros países do mundo, esta também vai ser”, afirmou.

Em relação à China, Monica de Bolle informou que o país se tornou muito dependente do resto do mundo, com seu crescimento ligado diretamente a outros países. “O crescimento autossustentável da China vai conseguir manter o país em determinado padrão, mas não necessariamente gera um impulso para a economia mundial, como temos visto ao longo dos últimos anos. Com o resto do mundo afetado ainda pela pandemia, ela não vai ter o que necessita para manter um ritmo de crescimento maior do que aquilo que é capaz de se sustentar sozinha”, analisou.