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Turismo de Negócios tende a contrair-se, quase a desaparecer, com o COVID-19

Os cenários econômicos global e brasileiro devem passar por uma transformação radical em função das crises sanitária e econômica a partir da pandemia do coronavírus. Exemplo paradigmático é o destino do turismo de negócios, condenado ao e-turismo digital. A análise foi feita na última reunião do Conselho Empresarial de Políticas Econômicas da ACRJ, que pela primeira vez, em 210 anos da Associação, ocorreu em forma virtual.

De acordo com os conselheiros presentes, outras mudanças devem ocorrer, por exemplo, as séries históricas de dados, já que a base de estatísticas será rompida, precisando ser refeita para continuar a fazer sentido e contribuir para os desafiantes exercícios de análise e planejamento, indispensáveis quando o amanhã chegar. Algumas mudanças já estavam em curso, como a do ensino à distância, mas sua concretização em larga escala foi acelerada, ocorrendo para surpresa geral em poucas semanas.

O momento é de incerteza generalizada e ainda nos cabe descobrir os caminhos a seguir. Precisamos, sobretudo, conhecer melhor a COVID-19, para saber como com ela lidar. O que já aprendemos é o grau de desigualdades inerentes à nossa sociedade, algumas herdadas do patrimonialismo e da escravidão luso-brasileira.

Ficou clara a preocupação com os estratos informais e às vezes até invisíveis, assim como com os micro, pequenos e médios empresários, tanto em função do alto desemprego que a situação gerou quanto com a escassez de crédito que se estreitou radicalmente, no momento em que se tornou indispensável para assegurar a própria sobrevivência das empresas.

O Conselho enfatizou a urgência de um esforço conjunto de Governo e empresas privadas para ajudar a identificar e cadastrar os trabalhadores invisíveis, fornecendo recursos para que possam sobreviver com dignidade a este momento de extrema necessidade de distanciamento e quarentena social para que, uma vez possível, terem condições de voltarem a ser agentes dinâmicos da economia, o que pressupõe, inclusive, abandonar o preconceito contra o trabalhador informal, que não é responsável pela própria informalidade. Ao contrário, muitas vezes é o herói que assegura a vitalidade da economia, de modo anônimo, mas verdadeiro, quando esta estiver em risco de esmorecer.

De qualquer maneira, o papel da rede do SUS e o Bolsa Família foram enaltecidos como pilares da sustentação, diria mesmo da sobrevivência das camadas menos favorecidas, para que no futuro se possa adicionar a renda mínima como instrumento a ser analisado cuidadosamente, podendo, talvez, ser objeto de debate em uma de nossas próximas reuniões do POLECO.

O Conselho estimou ainda que a economia ainda não chegou ao fundo do poço, sendo que uma maioria acredita que a projeção do FMI de queda do PIB brasileiro este ano de 5,3 seja talvez exagerada, embora sua estimativa de crescimento de 2,9 em 2021 é demasiado otimista, uma vez que a retomada tenderá a ser em forma de U, mais lenta do que uma recuperação em V.

O mesmo raciocínio prevaleceu na reunião em relação à queda prevista para o PIB global de 3%, e uma retomada em 2021. Alguns conselheiros se pronunciaram no sentido de que a China estaria ganhando esta fase de sua guerra fria com os Estados Unidos, pois parecem ter abdicado da posição de 75 anos ou mais de ser líder e até polícia do mundo. O anúncio de Donald Trump, no pico da maior crise sanitária global em mais de 100 anos, de que descontinuaria sua participação no custeio da OMS, parece exemplo paradigmático deste novo papel restrito dos USA nos destinos globais.

A hora exige, ao contrário, robusta cooperação de governança mundial, baseada em confiança, tolerância e forte consenso construído em torno da busca do bem comum da Humanidade, ressaltou o presidente do Conselho, Marcílio Marques Moreira.

O coronavírus e suas severas consequências econômicas serão ponto de inflexão marcante para o comportamento ao redor do mundo nas áreas política, econômica, social e cultural. De certa maneira, teremos de reinventar o mundo, pois o de ontem com seus ciclos, caminhos e até descaminhos está moribundo, que começa a mostrar novos contornos, mas ainda não nasceu em sua plenitude.

Uma dúvida também levantada foi a possibilidade ou conveniência de utilização de nossas largas reservas no combate à crise. Houve algum apoio à ideia, mas apenas para ser utilizada para financiar certas compras prioritárias, sobretudo em termos de instrumentos ou necessidades diretamente vinculadas à preservação da saúde e da vida.

O embaixador Marcílio chamou a atenção de que vivenciou diretamente várias crises ligadas a escassez de divisas ou ao pagamento da dívida externa, enquanto a atual crise, cercada de tantas incertezas, ao menos tem em nossas reservas um fator de tranquilidade.

O embaixador, na conclusão do encontro virtual, lembrou que desde a infância conviveu com crises que sempre o preocuparam, sem cortar o ânimo de prosseguir. Aos dois anos e meio de idade, no ano de 1934, se transferiu para Viena, um ano após Hitler ter assumido a Chancelaria da Alemanha e três meses após o golpe nazista na Áustria, em que foi assassinado seu Primeiro Ministro. Em Viena foi acometido, aos cinco anos de idade por grave moléstia, que o obrigou a refugiar-se, com sua mãe na Sicília, longe do frio vienense. Após a anexação do país pelas tropas alemãs, seu médico judeu foi impedido de continuar sendo seu médico. Só três meses da Declaração da Segunda Guerra Mundial voltaria para o Brasil a bordo de uma das últimas viagens de navios italianos que ainda faziam o trajeto.

Muitas crises depois, durante aquela em que exercia nas pastas da Economia, Fazenda e Planejamento, em tensa reunião com outros ministros do Governo, um deles, embora não fosse cristão, me passou um texto que acredito bem que cabe nesse momento tão difícil. Surpreso, li a Encíclica de São Paulo aos Romanos: Deveis alegrar-vos mesmo em tempos de turbulência, pois a turbulência exige a perseverança, boa virtude que acaba levando à Esperança.