Artigo da presidente Angela Costa, publicado no Globo, alerta sobre as consequências do fechamento da Niemeyer para a economia da cidade do Rio de Janeiro
Única alternativa ao Túnel Dois Irmãos, que liga os bairros de São Conrado e Leblon, a Avenida Niemeyer está fechada desde o dia 27 de maio do ano passado. Segundo dados oficiais, deixaram de circular por ali, diariamente, cerca de 36 mil veículos. Apesar de sua importância, a via foi interditada por razões de segurança, depois de ser atingida por deslizamentos de terra.
Como condição para a reabertura da Niemeyer, a Justiça determinou que a prefeitura fizesse obras de drenagem e contenção de encostas para reduzir os riscos de novos deslizamentos. Em janeiro, o município informou que investiu mais de R$ 34 milhões e realizou 56 intervenções que garantiram a segurança da via. As obras emergenciais estão concluídas.
Mesmo assim, o que se vê é uma queda de braço entre a prefeitura, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público estadual, encarregado de dar parecer sobre o pedido de reabertura. Agora mesmo, encontra-se nas mãos do MP o relatório do Instituto de Geoténica do Rio (GEO-Rio) a favor da reabertura. Só após a manifestação do MP, a Justiça tomará sua decisão.
Essa situação não interessa a ninguém. O fechamento da Niemeyer prejudica as populações da Barra, do Recreio e da Zona Oeste que utilizam a Niemeyer. E também afeta a vida das comunidades próximas, como a Rocinha e o Vidigal. Enquanto os Poderes se engalfinham, os motoristas que trafegam entre a Barra e a Zona Sul enfrentam longos engarrafamentos. São horas e horas perdidas, além da perda de empregos. Cai o movimento do comércio, cai a arrecadação do município.
Os hotéis da região chegaram a enfrentar 80% de queda na taxa de ocupação. O que levou ao fechamento de três motéis e dois hostels em São Conrado e no Vidigal. Mesmo hotéis maiores como o Sheraton e o Nacional — este recentemente recuperado graças a fortes investimentos — sentem reflexos negativos.
Com a Avenida Niemeyer fechada, o Rio também perde um de seus mais belos cartões postais. Nossa cidade foi tomada de turistas por conta do Carnaval, mas eles vão se despedir sem ter tido acesso àquela vista excepcional. É uma pena.
Em defesa do Rio e do direito de ir e vir previsto na Constituição, a Associação Comercial do Rio de Janeiro entende que faz-se urgente a conciliação entre as partes envolvidas. Não adianta buscar quem tem a razão, mas, sim, encontrar a solução para a abertura da Niemeyer.
Em vários países, vias em encostas operam com cancelas que são fechadas nos momentos de condições climáticas perigosas. Aqui no Rio, esse mecanismo ja é adotado no Alto da Boa Vista e na Estrada de Furnas. Com sucesso!
A ACRJ conclama o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Prefeitura a se sentarem à mesa e retomarem as negociações, se necessário com mediação federal. Chegou a hora de reabrir a Avenida Niemeyer!
Angela Costa
Presidente da ACRJ
2 de Março de 2020