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CE de Educação discute Lógica do Ensino Superior no século XXI

“Vivemos um momento de muita dificuldade para enxergarmos o que será o Ensino Superior no Brasil”, com essas palavras, o Consultor em Aprendizagem, Docência e Gestão Universitária Alexandre Mendes Nicolini abriu sua palestra para o Conselho Empresarial de Educação da ACRJ, no dia 16 de abril.

A nova lógica do Ensino Superior no século XXI foi o assunto da sua apresentação, na qual Nicolini – que possui experiência de 10 anos de pesquisa sobre gestão de universidades – comentou sobre o panorama do Ensino Superior, apresentando os desafios, caminhos e tendências da educação brasileira.

“Quando falamos da escolaridade de jovens com idade entre 20 e 24 anos, vemos que o Brasil está na 33ª posição na formação de jovens universitários, de acordo com dados divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ou Econômico (OCDE). Como vamos nos manter como a 8ª maior economia do mundo nessa posição?”, questionou Nicolini.

Segundo dados apresentados por ele, desde 1980 houve uma inclusão muito grande de pessoas no Ensino Superior. “Fomos de pouco mais de um milhão de pessoas para sete milhões em 2012, o que é um progresso notável. Mas é absolutamente insuficiente”. De acordo com pesquisa do MEC/Inep, quase 50% desses universitários estão na região Sudeste. “Mas não somos o único lugar onde há desenvolvimento, muito pelo contrário. A região que mais se desenvolve é a Nordeste, onde ainda temos poucos universitários”, afirmou.

Há uma predisposição dos mais jovens de permanecerem nas salas de aulas, enquanto os mais velhos optam cada vez mais por fazer EAD, ou Ensino a Distância, como apontam os dados apresentados por Nicolini. “Além disso, temos no Rio uma concentração excessiva dos universitários na Região Metropolitana, que centraliza 90% dos estudantes de ensino superior. Aí começamos a explicar o porquê do resto do estado não se desenvolver. Falta inclusive gente capaz de promover o desenvolvimento nessas regiões.”

O Rio de Janeiro tem 25% da população na faixa de idade entre 15 e 29 anos. São cerca de 4 milhões de pessoas em idade universitária. Porém, apenas 500 mil cursam o Ensino Superior. “Isso dá bem menos do que 15% da população jovem na universidade, se você levar em conta que a idade universitária está entre 18 e 25 anos”, definiu.

Segundo Nicolini, o problema não é apenas educacional, mas principalmente social. “Dos jovens entre 15 e 17 anos, 65% só estudam. Quase 19% estudam e trabalham. Quando você passa para a idade universitária, entre 18 e 24 anos, o percentual de pessoas que só estudam cai para cerca de 14%. Uma redução assustadora. Os que estudam e trabalham permanecem numa média parecida, com uma pequena queda para quase 15%. Mas há um salto significativo dos que apenas trabalham: de 6,5% para 47,3%”. Segundo a avaliação do consultor, as pessoas desistem de estudar e passam a trabalhar antes de chegarem na universidade. “Isso vai se aprofundar na idade entre 25 e 29 anos.”

Mas o problema, segundo ele, começa antes. Entre os 8,4 milhões de jovens matriculados no Ensino Médio, apenas 50,2% se formam. Mesmo assim, apenas 10% dos que concluíram a escola demonstram o nível de conhecimento esperado, de acordo com avaliações do Ministério da Educação. “Por mais que estejamos recebendo estudantes no Ensino Superior, a qualidade deste estudante é profundamente questionável. Infelizmente a formação que oferecemos a ele no ensino Superior também é profundamente questionável.”

A evasão do ensino médio também é assustadora. “No Rio de Janeiro, por exemplo, tivemos o número de matriculados caindo, de 635 mil em 2009 para 573 mil em 2017, com o número de concluintes estacionado. “Tivemos um ligeiro decréscimo na população de adolescentes, mas não justificaria essa quantidade de estudantes evadindo do ensino médio. Tínhamos espaço para aumento do número de matriculados, mas não é o que aconteceu.”

Nicolini apontou o que acredita ser a razão do problema. “O Ensino Superior brasileiro foi formatado apenas para a elite. Os professores de instituições de primeira linha, que se dizem propensas a receber estudantes de classes mais pobres, não acreditam no potencial do estudante. Eles apenas os aceitam. Não à toa a evasão no ensino superior é muito alta: 33% na rede privada e 22% na rede pública, por baixo.”

Desafios da Universidade

“As instituições ainda não entenderam que o papel delas é fazer com que o estudante aprenda, além de saber avaliar se ele aprendeu. Se elas fizessem isso já teríamos meio caminho andado”.  Segundo ele, há uma visão muito “mecanicista” do processo de aprendizado. “As universidades sempre acreditaram que expondo os estudantes ao conteúdo eles aprenderiam automaticamente. Isso não é verdade. Temos que, primeiro, organizar o trabalho para que ele possa aprender. Além disso, nunca notamos que o resultado da avaliação é o reconhecimento da sociedade”. Para ele, como as instituições nunca deram importância para avaliação, estamos formando indivíduos com formação comprometida, com a concepção equivocada de que eles possuem um bom diploma nas mãos.

Ele apresentou ainda algumas das questões que necessitam de uma visão atenta dos profissionais de Educação, pois serão cruciais nos próximos anos. Por exemplo, 60% das ocupações profissionais ficarão obsoletas até 2065, de acordo com a OCDE. Qual será o impacto disso nos cursos universitários? Além disso, novas ocupações surgem sem propostas de novos cursos que possam cobrir essa demanda, acarretando um atraso nos projetos educacionais.

O estudante também enfrenta, segundo o trabalho de Nicolini, desafios de aprendizagem. Ele aponta que os cursos ensinam fragmentos epistemológicos, e não necessariamente profissões reais, enquanto os EADs trazem para si as mesmas fragilidades do ensino presencial.

Tendências

De acordo com o trabalho de Nicolini, algumas tendências nos currículos educacionais vêm surgindo, buscando atender essas mudanças. Como por exemplo a necessidade dos currículos se reorganizarem em função de situações de trabalho, cursos da mesma área compartilharem de competências comuns, em vez de disciplinas, e a necessidade da organização curricular dar origem a possibilidades, e não limitá-las. Já outras tendências se apresentam no campo da aprendizagem, como a universidade deixando de ser a única fonte de saberes para se tornar uma delas, o professor se tornando um facilitador da aprendizagem, em vez de um transmissor de saberes, etc..

As provas, nesses novos caminhos, deveriam se tornar um processo científico de coleta de dados, com a Tecnologia da Informação atuando na geração de diagnósticos megadetalhados, propondo um “recall” de estudantes ao se identificar lacunas no desempenho.

Ao fim da apresentação, o Presidente do Conselho Empresarial de Educação, Wladymir Soares de Brito, agradeceu a participação de Alexandre Mendes Nicolini, que concluiu sua palestra ressaltando a importância de colocarmos “o emprego, a universidade, a ciência e a tecnologia no horizonte. Isso vai fazer com que as pessoas se engajem mais, e deixem de procurar ocupações alternativas, como o crime.”