Sem muito alarde, a Aviação Civil Brasileira passa por importante fase de maturidade, com quatro de seus mais importantes pilares apresentando forte consistência nos últimos 20 anos, qual seja: redução do valor da passagem aérea, evolução da demanda de passageiros, aumento da taxa de ocupação das aeronaves e bons índices de segurança. No contraponto, temos a disparada do valor do dólar e dos combustíveis de aviação, que causam enorme preocupação no setor e podem colocar em risco a saúde das empresas aéreas.
Como exemplo da força da aviação brasileira, entre 2002 e 2017, o valor das passagens foi reduzido em 69% tendo como comparação o valor do bilhete médio em período 2002/2017, o que por sua vez se refletiu no crescimento da demanda, que passou de 68 milhões passageiros em 2003 para 206 milhões de passageiros em 2017, e na taxa de ocupação das aeronaves no tráfego doméstico que passou de 60% em 2003 para 83% em 2017.
A condução deste assunto passa em ampliar e manter nossa infraestrutura aeroviária, reduzir taxas, impostos e custos gerais, e garantir bons padrões de segurança e qualidade nas operações, equilibrando adequadamente as necessidades dos consumidores e a vitalidade das companhias aéreas.
No setor aeroviário, as insuficiências da infraestrutura parecem menos evidentes que nos demais segmentos de transportes, mas ocorrem, e tendem a se agravar. Importante lembrar que o empresário, o turista, o técnico qualificado e a carga de maior valor, são os maiores usuários do transporte aéreo. Em síntese, quem não conta com um eficiente sistema de aeroportos comprovadamente fica um degrau atrás no desenvolvimento.
Neste sentido, podemos dizer que o Rio de Janeiro tem a “joia da coroa” da aviação civil brasileira, que é o Aeroporto do Galeão, o único planejado desde seu início para ser um hub, localizado num dos melhores sítios aeroportuários do país, relativamente próximo ao centro da cidade, plano, com grande área patrimonial para se desenvolver, localizado ao nível do mar e rodeado pela Baia de Guanabara, o que lhe garante um discreto isolamento. Todavia, por questões de peso econômico nos idos de 1994, o Hub migrou para São Paulo, com seus três grandes aeroportos (Guarulhos, Congonhas e Viracopos), carregando junto a maioria dos voos internacionais do país.
Por outro lado, o Galeão pode ter outra opção, muito mais charmosa e bastante rentável, de quem não é o maior, mas pode ser o melhor, onde o grande desafio do Rio na aviação seria alçar o Galeão a posição estratégica de “melhor Hub Aéreo do país e da América Latina”, o que irá nos garantir muitas facilidades e vantagens, traduzidos em muitos empregos e negócios no Estado. Para tal, será fundamental perseguir uma estratégia que contemple mais passageiros, mais voos, melhor qualidade nos serviços e menores custos, para animar as companhias aéreas e os passageiros.
Mais passageiros começa pela atração dos passageiros do próprio Rio de Janeiro, que invariavelmente vão a São Paulo, onde trocam de aeronave para alcançar o destino final. Para atrair este passageiro, será preciso garantir rápido e seguro acesso ao aeroporto, o que implica em adequar a infraestrutura da Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela a novos patamares operacionais.
Mais passageiros também implica em ampliar os destinos e a oferta de voos do Galeão, tendo como prioridade rapidez das operações tanto em terra, como no espaço aéreo, redução do custo aeroportuário, promovendo facilidades para as companhias aéreas, e com destaque, combustível a preços competitivos, esta de fato uma empreitada complexa no Brasil de hoje, onde o combustível chega a representar 40% do custo da hora de voo.
Mais passageiros significa serviços de qualidade no aeroporto, tal como meio fio de fácil acesso, desengarrafado, organizado e policiado, saguão com filas de atendimento organizadas e rápidas, bares, restaurante e lojas com bons produtos a preços acessíveis, evidentemente todos impecavelmente limpos, com organização, segurança, bom atendimento e cortesia.
Alcançado tal patamar, vamos em seguida conseguir atrair viajantes de outras regiões do país, inicialmente de voos nacionais com conexão, para em seguida ter o retorno de novas rotas internacionais.
Mais passageiros será o resultado de um trabalho detalhado de planejamento, de integração, de muita paciência e fiscalização, corrigindo erros, ajustando procedimentos e, sobretudo de tenacidade e humildade. Não será fácil ser o melhor, mas afinal o Rio está aqui para fazer a diferença.
Delmo Pinho
Presidente do Conselho de Logística e Transporte da ACRJ