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Qual o percentual de Coleta Seletiva: 8 ou 80%?

Qual o percentual de Coleta Seletiva: 8 ou 80%?

Leio no Diário Oficial da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, um importante comunicado sobre a contratação de frota de caminhões para Comlurb, novos e com tecnologia dirigida aos garis, para que os mesmos tenham maior facilidade no recolhimento domiciliar dos resíduos sólidos, potencialmente RECICLÁVEIS. São destinados à Coleta Seletiva. A Comlurb anuncia sua meta de atender a 160 bairros da cidade do Rio de Janeiro nesses serviços, contra os atuais 113 atendidos.

Coincidentemente, esta semana, caminhando pelas ruas de Copacabana constatei, mais uma vez, a enorme dificuldade da conscientização da população em ofertar seus sacos transparentes com o resíduo reaproveitável para a Comlurb. A culpa pode ser de síndicos ou mesmo de porteiros, que preferem ofertar o material separado pelos moradores dentro dos seus lares para caminhões velhos, caindo aos pedaços, com placa geralmente de municípios da Baixada Fluminense. Esses motoristas fazem o serviço como ganha pão e são parte de um sistema maior de reciclagem no país, tão importante e necessário para o meio ambiente, mas sem a informação da quantidade retirada. Também as empresas têm responsabilidade pelo descarte seletivo de materiais e pelo seu destino, que deveria priorizar a coleta da Comlurb. Não se pode afirmar que a coleta seletiva na nossa cidade é ínfima, se desconhecemos os números da coleta seletiva informal. Esta sim, tenho certeza, é expressiva, mas a desconhecemos.

Esclarecendo melhor, a Comlurb investe nesse serviço, faz rotas de recolhimento do material com hora e dias marcados, faz campanhas educativas, ensina que bastam duas latas de lixo em cada casa, sendo uma para o lixo orgânico, recolhido três vezes por semana e a outra com plástico, metal, vidro, papel, ou seja, com o lixo seco gerado em grandes volumes por uma família, uma vez por semana. O caminhão da Comlurb que sai pelas manhãs é pesado no final do expediente e, assim, é possível controlar quanto de material reciclado foi recolhido. Mesmo por amostragem, é possível identificar por região ou bairro as características do consumo daquela população. Como, por exemplo, se chegou à conclusão de que em Copacabana se toma muito remédio e em Santa Tereza muito produto natural? Através do controle das embalagens dos produtos consumidos e descartados. No entanto, essa estatística pode não ser verdadeira, pois não há controle para o descarte que é realizado através dos caminhões clandestinos.

O desafio é esse: como retirar esses ilegais do caminho dos caminhões oficiais, que são controlados e pesados, garantindo o destino correto dos resíduos para as organizações de catadores espalhadas pela cidade, que comercializam o material como forma de emprego e geração de renda para a população de baixa renda. Enquanto essa situação permanecer, será leviano falar sobre percentuais de coleta seletiva. Ou encontramos formas de incluir a coleta informal no levantamento de dados ou devemos desistir de publicar estatísticas sobre o tema. A verdade é que, se a coleta informal for incluída no universo pesquisado, com certeza passaremos de meros índices vexatórios para poderosas toneladas de material reaproveitado. 

Angela Fonti
Vice-presidente de Patrimônio da ACRJ