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Palácio do Comércio: Art Dèco na Rua da Candelária 9

Palácio do Comércio: Art Dèco na Rua da Candelária 9

Eram os Anos Loucos, como ficaria conhecido o período entre guerras, findado com o armistício da Primeira Guerra Mundial (1918). Muitos historiadores consideram que somente aí se iniciou o século XX. Os países se reerguiam, novas fortunas apareciam, a indústria e o comércio reagiam, a sociedade queria mostrar que era moderna e se divertir, antes que outra guerra pudesse acontecer, o que, infelizmente, acaba por vir lá pelos fins da década de 1930.

A Associação Comercial do Rio de Janeiro, que perambulava, como se nômade fosse, de casa em casa, resolve construir a própria sede, o Palácio do Comércio, numa época em que as grandes metrópoles se firmavam, e o Rio de Janeiro como capital federal, a exemplo de Nova York, Chicago, e outras cidades progressistas, não ficava atrás e adotava o art dèco, como seu estilo predominante, para construir os novos “arranha-céus”. Os novos industriais ofereciam grandes festas, ao sabor de qualquer pretexto. As melindrosas se faziam notar, as saias encurtavam, mostrando os joelhos — que horror (!), diziam alguns. Coco Chanel, em momento de mera descontração, corta o cabelo e passa a ser copiada por grande parte da sociedade ocidental do planeta.

Outras mulheres vão além, cortando as madeixas a la garçon, grandes colares de pérolas rodopiavam, qual laços de vaqueiro, nas animadas noites ao som de Charleston, regadas a champagne e a gin tônica. Salgado Scarpa, presidente à época, encomenda, então, aos arquitetos franceses Henri Sajous e Auguste Rendu o novo e revolucionário projeto em 1935, mais um arranha-céu, que iria subir no centro nervoso, financeiro e social da cidade, bem na Rua da Candelária, para sediar a mais antiga entidade civil-comercial da Terra Brasilis.

Getúlio Vargas lança a pedra fundamental em 1937, para o que seria um dos melhores exemplos do art dèco da Cidade Maravilhosa, inaugurando-se em 1940, talvez até tardiamente para o estilo e, ironicamente, coincidindo com o início da tão temida Segunda Guerra Mundial. Novamente o Presidente Vargas esteve presente, para a inauguração, na gestão de Manoel Ferreira Guimarães. Em sua fachada simétrica encontra-se a geometria bem característica do art dèco, onde prismas retangulares se sucedem em vários planos e tamanhos, culminando com balcões semicirculares, de onde se descortina uma das melhores vistas da nossa grandiosa baía.

Já no hall de entrada nos deparamos com o monumental tríptico de Alberto Freyhoffer, painel em relevo, em pedra de Caen, representando as riquezas produzidas em nosso país, tanto quanto a atividade comercial, tudo em torno de Mercúrio, o majestoso patrono helênico do Comércio, que aparece novamente noutro painel do mesmo autor, já no terraço, dessa vez ladeado por ninfas, a da esquerda se apoiando no próprio palácio e a da direita levando café, até hoje na nossa representação heráldica. Também de Freyhoff, de cada lado do hall está, em escala gigantesca, o logotipo da Associação, podendo-se vislumbrar, aí também, a qualidade da serralheria artística, cuja sinuosa geometria se repete ao longo do projeto.

Além das colunas em mármore Travertino, no interior, pisos de impecável granitina misturam-se a outros mármores de várias tonalidades com desenhos quadrangulares e os melhores assoalhos em Peroba do Campo. Como qualquer casa centenária, alguns ajustes foram feitos ao longo dos anos, mas mantendo sempre a integridade da majestosa importância que assume, não só na história da nossa arquitetura, tanto como na representação do valor primordial da Associação Comercial, hoje, dentro da nossa federação e o mundo financeiro ao redor.

Luciano Cavalcanti de Albuquerque
Conselheiro do Conselho Empresarial de Assuntos Culturais da ACRJ