Artigos

Cidades Inteligentes ou Humanas e Inteligentes

Cidades Inteligentes ou Humanas e Inteligentes

Alguns desafios enfrentados atualmente pelas cidades, devem ser superados através da implementação de uma estratégia colaborativa e inclusiva do cidadão. A inovação na gestão pública estimula o Brasil a desenvolver novas formas de governar com a sociedade (governança compartilhada), permitindo às pessoas um acesso mais igualitário aos serviços públicos e a desburocratização dos processos numa visão de estratégia em longo prazo, adotando tecnologias já utilizadas em outros setores de atividade.

Existem três tipos fundamentais de serviços numa Prefeitura:

·       Serviços administrativos do Município

·       Serviços públicos municipais

·       Serviços ao cidadão

Apesar de terem propósitos diferentes, os vários serviços têm um objetivo comum: melhorar a cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. Estes serviços podem ser explicados num sistema tecnológico comum. Na verdade o Nível de Aplicação (serviços) está sobre uma camada de integração (Processamento e Armazenamento de Dados) que a integra com as infraestruturas técnicas, denominadas Nível de Dados, conforme arquitetura abaixo. 

O Brasil tem cidades relativamente maduras em termos cronológicos, como por exemplo Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, entre outras, que remontam ao início da colonização do país. Por outro lado, o Brasil exibe razoável conjunto de cidades (pelo menos parcialmente) planejadas, como por exemplo Goiânia, Belo Horizonte, Paragominas, e a mais conhecida de todas, Brasília.

O panorama das cidades brasileiras tem sofrido fortes alterações nos últimos anos. De fato, as transformações sociais e econômicas são notórias devido a diversos fatores como os programas governamentais (por exemplo, o programa “Minha Casa Minha Vida” ou a criação das UPPs – Unidades de Polícia Pacificadora). Muitas cidades mostram sinais de mudança visando implementar novos conceitos de governança.

No entanto, mirando os desafios do futuro (inclusão digital/informacional, desenvolvimento econômico local, educação de qualidade, combate a violência e a drogas, preservação do meio ambiente, identidade cultural e etc), há ainda um longo caminho na integração da cidade como um todo. A discriminação social leva à criação de um fosso entre moradores de bairros formais e informais, não apenas do ponto de vista social, como também no que diz respeito às oportunidades de emprego ou ainda à participação cívica.

O tecido das cidades brasileiras é altamente diversificado e heterogêneo no que diz respeito às suas dimensões, ao seu desenvolvimento econômico e social e à penetração de inovação, comunicação e ICT (“information and communication technology”, em português “novas tecnologias de informação e comunicação”). A existência desta multiplicidade de cenários exige uma estratégia de atuação que se ajuste às diferentes circunstâncias. Existem de megacidades a cidades de pequenas dimensões, cidades que apresentam grande desigualdade e outras mais igualitárias, cidades digitais e cidades com fracas infraestruturas tecnológicas, entre muitas outras. Cada característica que define uma cidade requer uma prioridade diferente. Além disso, as constantes transformações das cidades demandam uma estratégia que se adapte com o passar do tempo.

Trabalhar em conjunto com a comunidade local é o desafio deste projeto. A estratégia de atuação visa incluir os diversos atores que têm um papel relevante na governança e na vivência da cidade. Estreitar as relações entre o cidadão e as esferas de poder é um desafio que traz enorme valor acrescentado, independentemente do panorama da Cidade. Assim, é dada aos moradores a possibilidade de participar ativamente da vida em sua cidade.

O Brasil dispõe de mecanismos de apoio a prefeituras, que visam torná-las mais eficientes. Um exemplo é o PMAT do BNDES, que financia projetos relacionados com planejamento, organização e Gestão; sistemas e tecnologia de informação; centrais de atendimento ao cidadão; relações intra e interinstitucionais; e integração de informações municipais, tanto na esfera intramunicipal como na esfera federal.

Hoje em dia, mais da metade da população vive em cidades, e estima-se que este valor venha a aumentar para 70% em 2050. Este cenário traduz-se num crescente número de desafios com um grande impacto no bem estar e na qualidade de vida dos cidadãos. Consideram-se as mudanças demográficas, a gentrificação, a habitação sustentável, a mobilidade, o impacto ambiental, o apoio à saúde e à segurança, a pobreza, etc. Encontrar soluções para estes desafios é uma prioridade.

O rápido crescimento das ICTs permitiu a criação e adaptação de serviços. Na verdade, a informática e as redes sociais estão a impulsionar o ecossistema de inovação democrática e as transformações sociais. Os cidadãos estão cada vez mais informados e exigentes no que diz respeito às suas necessidades. A colaboração e a participação cívica tem aumentado, fortalecendo o compromisso com a dinâmica democrática e com a qualidade de vida da sociedade. Os interesses gerais prevalecem sobre os interesses individuais.

Os desafios da cidade e as transformações sociais foram enfatizados recentemente pela crise financeira, contribuindo para uma nova consciência social. Novas abordagens foram criadas para enfrentar essas transformações.

O conceito de cidade inteligente foi criado pela indústria tradicional das ICTs com o objetivo de explorar novas oportunidades de mercado. Este conceito foi usado através de infraestruturas ICT sofisticadas, que mapeiam o que está a acontecer numa cidade. Carros estacionados, engarrafamentos, disponibilidade de leitos nos hospitais, consumo de energia, qualidade da água e do ar, temperatura e ruído são alguns dos elementos constantemente verificados.

A Internet das Coisas, a rede de objetos físicos com tecnologia embarcada, recolhe dados relevantes, proporcionando uma visão integrada de todos os processos da cidade. O uso intensivo de modelos de análise de dados, provavelmente processados em computação em nuvem, completa a compreensão da cidade como uma máquina e permite agir no mundo real para adaptá-la às novas circunstâncias – os carros podem ser encaminhadas para vagas disponíveis, as ambulâncias podem ser redirecionadas, o consumo desnecessário de energia pode ser racionalizado, os cidadãos podem ser avisado sobre as condições ambientais, etc.

Uma cidade inteligente desenvolvida aplica esta lógica a todos os elementos funcionais de uma cidade, permitindo um controle integrado dos sistemas urbanos, especialmente quando tais sistemas estão relacionados com os diferentes departamentos de uma administração. Adicionalmente, a combinação de informações fornecidas por redes de sensores com aplicativos de smartphones (especialmente viável quando o acesso aberto a dados públicos é implementado) permite a personalização de serviços da cidade. É possível atender às necessidades de um cidadão específico de acordo com sua posição, perfil e padrões de comportamento.

No entanto, no contexto da crise financeira, graves limitações foram impostas nos investimentos em infraestruturas e, em alguns casos, na prestação de serviços básicos urbanos. Isto parece ter criado uma nova consciência social: os cidadãos demandam uma representação mais eficaz para superar a falta de confiança nas autoridades. Na realidade, a explosão da participação em massa através das redes sociais confirma uma “demanda das ruas”, que demanda a abertura, a transparência e a confiança no governo e no sistema político.

As soluções meramente suportadas por tecnologia não tiveram a capacidade de engajar os cidadãos e as prefeituras já que estes não se apropriaram dos serviços “inteligentes”. Os desafios urbanos são maiores e requerem uma transformação mais radical.

Este cenário justifica a necessidade de desenvolver o conceito de Cidades Inteligentes, que prioriza os cidadãos, as suas necessidades e a colaboração com as autoridades públicas.

CIDADES HUMANAS E INTELIGENTES

Com a nossa vasta experiência, desenvolvemos novos modelos e metodologias para engajar cidadãos e prefeituras no co-desenho e co-criação de serviços para resolver as suas necessidades. Estes conceitos integram o novo paradigma da cidade: a Cidade Humana e Inteligente.

O conceito de Cidade Humana e Inteligente aparece como uma evolução da Cidade Inteligente. Valoriza ainda mais a existência de um ambiente inteligente na vida de pessoas inteligentes, com governança e economia inteligentes, favorecendo a inovação e a exploração do capital humano disponível.

Uma cidade só pode ser inteligente se utilizar a análise de dados com o objetivo de assegurar inteligência, não só em termos de automação de funções de rotina, mas também na compreensão, monitoramento, análise e planejamento da cidade, melhorando a qualidade de vida de seus cidadãos e construindo um modelo de governança confiável, engajando e capacitando os cidadãos na co-criação de soluções para os desafios sociais coletivos emergentes.

Nas Cidades Humanas e Inteligentes, o Governo está aberto a envolver-se e a ser envolvido por iniciativa dos cidadãos na base de uma relação aberta, transparente e de confiança.

O governo implementa e apoia um ecossistema de inovação urbana (Living Lab Urbano), no qual as comunidades virtuais das Cidades Humanas e Inteligentes são encorajadas a migrar para o espaço físico. Assim, podem se encontrar fisicamente e identificar os desejos, interesses e necessidades comuns, colaborando com o co-desenho e co-criação de soluções.

Nas Cidades Humanas e Inteligentes, as tecnologias de informação são utilizadas para resolver os problemas sociais, econômicos e ambientais, com foco no bem-estar e na felicidade dos cidadãos.

A abordagem das Cidades Humanas e Inteligentes está ganhando cada vez mais apoio dos governos municipais em toda a Europa, bem como na comunidade de pesquisa sobre as Cidades Humanas e Inteligentes. É vista como a forma mais eficaz de solucionar os principais desafios da cidade já que é uma abordagem mais equilibrada e holística da tecnologia.

                      Os desafios da cidade são enfrentados de forma mais eficaz em cada bairro, onde as pessoas podem interagir mais facilmente e descobrir os seus desejos, interesses e necessidades comuns.

As vantagens da implementação das Cidades Humanas e Inteligentes manifestam-se em diversos setores e são patentes para os vários atores da cidade.

VANTAGENS

PARA OS CIDADÃOS

·       Sentimento de pertencimento

·       Integrar e evitar o isolamento;

·       Compartilhar desejos, interesses e necessidades;

·       Promover a interação online e off-line com base em interesses comuns;

·       Informar e dar acesso a serviços públicos;

·       Dar voz aos cidadãos;

·       Informar sobre negócios / serviços disponíveis;

·       Oferecer serviços e vantagens online;

·       Oferecer notificações sobre os interesses inscritos;

PARA OS GOVERNOS DAS CIDADES

·       Conhecimento dos desejos, interesses e necessidades dos cidadãos;

·       Criação de serviços com base nos dados recolhidos pela plataforma;

·       Monitoramento e melhoria contínua dos serviços prestados, baseados em informação real-time prestada pelos cidadãos;

·       Estreitamento da relação entre a administração da cidade e os cidadãos;

·       Coleta de informação de elevado valor acrescentado para a administração e gestão da Prefeitura;

PARA OS EMPREENDEDORES

·       Acesso a informação massificada e localizada para o desenvolvimento de aplicações e serviços;

·       Criação de oportunidades de negócios;

·       Diminuição de barreiras na criação e exploração de ideias;

·       Acesso ao serviço de mentores, que melhora a qualidade das decisões de gestão e potencializa a capacidade de lucro.

PARA OS VISITANTES

·       Informação de caráter turístico;

·       Interação com pessoas do bairro sobre as experiências de outros bairros, serviços, e outros temas de interesse;

·       Informação relevante sobre o bairro, produzida pelas pessoas locais;

·       Sensação de integração com o bairro que visita.

PRÓXIMOS PASSOS

Existem várias visões de uma Cidade Humana e Inteligente:

Cidades Humanas e Inteligentes são Ecossistemas de Inovação (Urban Living Lab) focadas em pessoas (Social Inclusion), promovendo a criação de riqueza e emprego (Economic Development), em um modelo econômico sustentável (Environmental Sustainability).

O Conselho ICT, através da ACRJ, organizará um “Innovation Discovery” com a Prefeitura do Rio de Janeiro,  para desenvolver projetos que contribuam com o conceito do Ecossistema de Inovação da Cidade, criando um ambiente positivo para tornar o Rio de Janeiro a primeira verdadeira Cidade Humana e Inteligente no Brasil.

Augusto Carvalho

Membro do Conselho Empresarial de Inovação, Comunicação e Tecnologia da ACRJ

Ex-diretor da IBM responsável pela área de Cidades Inteligentes