Por Josier Vilar, presidente da ACRJ. Artigo publicado no Jornal O Dia
Durante os 197 anos, a cidade do Rio de Janeiro foi a capital da Colônia, do Império e da República brasileira.
Em 1960 a capital federal foi transferida para Brasília, denominada então Novacap, enquanto o Rio passava a ser chamado de Belacap. Essa transferência nos deixou o triste legado de uma economia fortemente ligada aos governos coloniais, imperiais e republicanos.
Até perder seu status de capital federal, o Rio de Janeiro era a cidade mais rica do país.
Hoje, Brasília ostenta esse título com a maior renda per capita nacional, embora lá não exista uma única indústria de destaque, não tenha surgido, nesses 65 anos de existência, uma única startup que tenha se transformado em grande empresa ou qualquer empresa varejista privada de reconhecimento nacional.
Brasília é o que o Rio foi até os anos 1960: uma cidade de consumidores, fortemente dependente de governos, dos altos salários e dos benefícios do setor público.
O Rio precisa deixar de lado o fantasma de haver sido capital e construir uma nova identidade. A transferência da capital deveria ter sido planejada para que abandonássemos a cultura patrimonialista de Estado e criássemos uma cultura de empreendedorismo no Rio. Assim, a cidade poderia conceber seu futuro de forma sustentável, especialmente nesse período pós-industrial em que a batalha final entre os hardwares e softwares já foi concluída com a vitória dos softwares
Não podemos desperdiçar algumas heranças positivas, como uma rede universitária pública de alta densidade, centros de pesquisa de reconhecimento internacional, agências reguladoras, sede de inúmeras empresas estatais, um patrimônio arquitetônico e cultural singular, além de forte vocação para serviços e uma monumental beleza natural.
Mas não podemos e não devemos viver somente desse passado glorioso.
Mesmo não tendo sido preparada para ser uma cidade empreendedora, o mundo digital e da inteligência artificial oferece essa nova oportunidade para deixarmos de ser aquela cidade cartorial e dependente dos recursos e do poder público, para gerarmos um ambiente indutor da modernidade e do empreendedorismo.
Uma cidade sustentável tem de ser atrativa para se viver, trabalhar, empreender, investir e visitar. E o Rio possui todos os fundamentos para ser a capital do empreendedorismo do Brasil, trazendo para cá milhares de nômades digitais e de startups das diversas áreas da economia. Basta que os governos federal, estadual e municipal cuidem da segurança e ordem pública e incentivem uma política pública de racionalização e desburocratização do Estado, criando, assim, um ambiente de negócios atrativo para o ecossistema empresarial.
O Rio precisa abandonar de vez a trágica e anacrônica herança de ter sido capital federal e se tornar uma cidade moderna e empreendedora.
Se o Rio passar a ser percebido como essa cidade da inovação e da transformação digital todo o Estado do Rio de Janeiro passará a ser objeto de desejo das grandes indústrias de inovação mundial.
É nisso que a Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ acredita e convida todo o empresariado carioca e fluminense a estar junto nessa jornada.
Artigo publicado originalmente no Jornal O DIA