Artigos de Opinião

Acesso à Saúde: Um Direito Negado

Acesso à Saúde: Um Direito Negado

Por Josier Vilar, presidente da ACRJ. Artigo publicado no Diário do Rio

“Problemas absurdos geram desafios apaixonantes” – Dom Hélder Câmara

Imaginemos que você necessite de um atendimento médico devido a uma situação clínica incapacitante que demande uma intervenção cirúrgica para colocação de uma prótese no joelho, ou que tenha um diagnóstico de câncer de próstata ou um câncer de mama. Quanto tempo estaria disposto a esperar para ter seu problema resolvido?

Imagine que uma mulher jovem e grávida de um parto de risco tenha de se deslocar 150 quilômetros para ter um parto seguro, ou que uma pessoa obesa tenha de esperar 10 meses para ter uma consulta com um cardiologista ou com um endocrinologista.

Situações reais como as acima são frequentes na vida diária dos cidadãos, especialmente os de baixa renda, sem que, apesar do preceito constitucional garantidor, sejam atendidos no tempo correto e nas condições que precisam ser ofertadas.

A garantia de acesso é o principal problema da saúde brasileira.

Acesso a serviços médicos assistenciais de qualidade e de forma equânime é um dever moral da sociedade.

O problema é que na maioria das vezes a moralidade não se sustenta sem a fundamentação econômica para sustenta-la.

Portanto, se temos dificuldade para o custeio crescente  dos serviços médicos assistenciais, seja no setor privado através dos planos de saúde, seja no setor público através do SUS, temos de encontrar soluções que reduzam a necessidade de mais recursos financeiros para garantir a oferta dos serviços a quem necessita.

É obvio que temos um inaceitável desfinanciamento do SUS que impede uma maior eficiência do sistema e um incontrolável e progressivo gasto assistencial no setor privado que ocasiona um aumento insuportável dos planos de saúde.

Como não existe margem no orçamento da união para ampliar gastos com a saúde pública  e como as empresas que são responsáveis pelo pagamento de 80% dos planos de saúde privados para que seus empregados e dependentes possa ter acesso mais rápido ao atendimento que necessitam  não conseguem mais absorver os custos crescentes com saúde, cujos índices anuais tem sido muito superiores aos da inflação média brasileira, é por um novo modelo de governança e gestão que teremos de caminhar, buscando integrar  o sistema público e privado, compartilhando dados, reduzindo os desperdícios e evitando redundâncias, gerando mais eficiência e eficácia  no diagnóstico e tratamento, implantando modelos assistenciais inovadores com uso da inteligência artificial, implementar automação de processos administrativos para evitar perdas e glosas, qualificar os profissionais de saúde para o novo mundo digital da saúde e gerenciar de forma transparente e acessível pelos interessados, os sistemas de regulação, que hoje são uma verdadeira e inaceitável caixa preta.

Temos de ter em mente que o acesso sustentável é o maior desafio da saúde brasileira.

Não temos mais espaço para desperdícios e ineficiência. O acesso à saúde é um dever moral e um direito civilizatório.

Para vencer esse desafio, temos de começar medindo o que fazemos, criando métricas e metas assistenciais.

Temos de mapear a estrutura médica assistencial em todo o pais para saber por georeferenciamento o que temos instalado de equipamentos diagnostico e terapêutico, quais, quantos  e onde estão os especialistas, que tipo de leito  hospitalar, geral ou especializado, possuímos, quais, quantas e onde existem as clínicas especializadas em cada cidade e região do nosso país, para que possamos alocar os corretamente recursos, otimizar o uso de nossa capacidade instalada  e integrar o sistema assistencial de forma eficiente e eficaz, através da interoperabilidade dos dados e através do modelo de economia colaborativa.

Será assim que conseguiremos dar um grande passo na integração de um verdadeiro sistema único de saúde.

Artigo publicado no Diário do Rio