Por Andrea Marinho, membro do Conselho Empresarial de Educação da ACRJ
A pergunta, repetida por incontáveis gerações — “O que você quer ser quando
crescer?” —, que já suscitou respostas incríveis e, muitas vezes, inusitadas, parece ter
perdido o sentido nesta nova era. O contexto de mudanças aceleradas, impulsionadas
pelas novas tecnologias e, mais recentemente, pela inteligência artificial, torna
impossível prever quais profissões existirão no futuro das crianças e adolescentes de
hoje. Soma-se a isso o constrangimento coletivo por não estarmos oferecendo uma
educação que os prepare para enfrentar esse futuro incerto e, mais ainda, para
participar ativamente de sua construção.
De acordo com a primeira etapa do Censo Escolar 2024, divulgado pelo Ministério da
Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), o Brasil registrou 7,8 milhões de matrículas no ensino médio,
um crescimento de 1,5% em relação a 2023. A rede estadual concentra 83,1% dessas
matrículas, atendendo mais de 6,5 milhões de alunos. Cerca de 93,4% da população
entre 15 e 17 anos frequenta a escola (INEP, 2024).
Esses dados mostram avanços no acesso, mas ainda não garantem a permanência e
a conclusão do ensino médio por todos os jovens. Segundo o próprio Inep, apenas
cerca de 65% dos jovens em idade adequada concluem essa etapa da educação
básica (INEP, 2024). Ou seja, uma parcela significativa dos adolescentes ainda está à
margem do sistema educacional.
Um estudo conjunto da Firjan SESI e do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) destaca a oferta de educação profissional concomitante ou
integrada ao ensino médio como uma das estratégias mais eficazes para reduzir a
evasão escolar (FIRJAN; PNUD, 2022). Essa oferta não apenas fortalece a
permanência dos estudantes na escola, como também desenvolve competências e
habilidades necessárias à inserção no mundo do trabalho — um cenário cada vez
mais marcado por transformações digitais, automação e uso intensivo de inteligência
artificial.
Para os que ainda acreditam que a educação profissional integrada restringe
oportunidades, os dados do Censo da Educação Superior 2023 são esclarecedores:
O que você quer ser quando crescer?
dos concluintes do ensino médio em 2022, apenas 30% ingressaram na educação
superior em 2023. Já entre os estudantes que concluíram o ensino médio articulado
com a educação profissional (integrado ou concomitante), o índice sobe para 47%,
mostrando que esse caminho não é um obstáculo, mas uma ponte para novas
possibilidades (INEP, 2023).
Apesar das evidências, os avanços são tímidos. Segundo o Censo Escolar 2024,
apenas cerca de 13% dos alunos do ensino médio estavam matriculados em cursos
que articulam a formação geral à educação profissional (INEP, 2024) — um percentual
que ainda revela um descompasso com as diretrizes da Meta 11 do Plano Nacional de
Educação (PNE), que propõe, entre outras ações, “ampliar a oferta de matrículas
gratuitas de educação profissional técnica de nível médio pelas entidades privadas de
formação profissional vinculadas ao sistema sindical e entidades sem fins lucrativos de
atendimento à pessoa com deficiência, com atuação exclusiva na modalidade”, além
de “fomentar a expansão da oferta de educação profissional técnica de nível médio
nas redes públicas estaduais de ensino” (PNE, 2014)
Diante desse cenário, o desafio está posto: uma estratégia já validada e com
resultados positivos precisa ser amplamente implementada. A educação profissional
articulada ao ensino médio não deve ser vista como uma via de limitação, mas como
um caminho de ampliação das escolhas possíveis para o futuro.
Assim, a pergunta muda. Em vez de perguntarmos “O que você quer ser quando
crescer?”, talvez devamos nos perguntar: o que nós — educadores, gestores, famílias,
formuladores de políticas e sociedade como um todo — estamos fazendo hoje para
que essa nova geração possa, de fato, ser, quando crescer?

Referências:
FIRJAN; PNUD. Educação profissional e juventude: caminhos para reduzir a evasão
escolar. Rio de Janeiro: FIRJAN SESI, 2022. Disponível em: https://www.firjan.com.br/.
Acesso em: abr. 2025.
INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
ANÍSIO TEIXEIRA. Censo Escolar da Educação Básica 2024: resultados preliminares.
Brasília: INEP, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/inep/. Acesso em: abr. 2025.
INEP – INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
ANÍSIO TEIXEIRA. Censo da Educação Superior 2023: notas estatísticas. Brasília:
INEP, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inep/. Acesso em: abr. 2025.
BRASIL. Ministério da Educação. Coletiva de imprensa – Resultados do Censo
Escolar 2024. Brasília: MEC, 9 abr. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/mec/.
Acesso em: abr. 2025.
BRASIL. Plano Nacional de Educação: Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova
o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Meta 11. Disponível em:
https://pne.mec.gov.br/. Acesso em: abr. 2025