Por Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente do Conselho Superior da Firjan
A História nos revela a força interior de homens públicos convictos do melhor caminho para seus povos. Churchill agiu contra a opinião dos que advogavam que a Inglaterra, já em guerra, fizesse um acordo com Hitler. De Gaulle contrariou Pétain e liderou, de Londres, a reação da França. São exemplos forjados em tempos de guerra. Não é exagero afirmar que vivemos, também nós, brasileiros, tempos de guerra.
Uma coisa deveria unir a todos neste momento e caminhar em paralelo com ações táticas: o combate ao crime na política. Enquanto o crime se sofistica e acumula recursos com a venda no atacado para o exterior, a segurança adota as mesmas táticas de anos passados. Nossa polícia ainda vai às favelas para matar e morrer. Deixa inocentes pelo caminho em troca da apreensão de uma ou outra arma. Isso não faz diferença para a economia das organizações criminosas. Não que a polícia não deva entrar onde quer que seja para prender criminosos e restabelecer a ordem. A retomada do território segue como necessidade imperiosa, mas ela deve ser acompanhada da necessidade de asfixiar financeiramente o crime organizado, bloquear a venda no atacado e fortalecer a fiscalização em portos e aeroportos, sempre com a atuação do governo federal.
A atualização do Mapa dos Grupos Armados, iniciativa do Instituto Fogo Cruzado e do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF), mostra que mais de 18% da Região Metropolitana do Rio esteve sob domínio de um grupo armado em 2023. Esse domínio era de 9% há 15 anos.inho mais
É sabido que, para se eleger, candidatos recorrem ao apoio de líderes de facções. Ou pedem licença a eles para fazer campanha. Ainda mais grave: contam com seu apoio ou são prepostos desses criminosos. Em alguns níveis, faz-se vista grossa à conexão mais que conhecida de representantes já eleitos com chefões da milícia. Isso acontece aos olhos de todos. O PCC, o Comando Vermelho, as milícias ou sejam quais forem as organizações estão dentro do Parlamento e das casas legislativas.
Esse cenário não é exclusividade de Rio ou São Paulo. É um problema do Brasil e reclama uma política de Estado. É preciso identificar as cabeças pensantes do tráfico e da milícia e eliminar da vida pública seus representantes nas três esferas de poder.
O Brasil precisa de enfrentamento com inteligência. A partir desse mapeamento, as forças policiais terão, sim, de retomar os territórios controlados pela milícia e pelo tráfico. Isso não se faz sem perdas humanas nem sem uso de armamento pesado. As UPPs fracassaram porque se fez uso político delas. E foram poucos os que, à época, ousaram colocar em dúvida as “retomadas” em série de território.
Estamos em guerra. Precisamos vencê-la. Isso se dará com inteligência, não com um punhado de granadas apreendidas e inocentes mortos. A PEC da Segurança Pública é um passo acertado, mas só terá efetividade se for capaz de produzir convergência entre governo federal e governos estaduais. É passada a hora de adotar uma política de Estado que envolva o compromisso firme e sincero de líderes com visão de estadista.
Publicado originalmente no Jornal O Globo
*Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira é presidente do Conselho Superior da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)