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Dia Mundial do Sorvete (23 de setembro)

Dia Mundial do Sorvete (23 de setembro)

Por Reinaldo Paes Barreto, membro do Conselho Empresarial de Cultura

Aos 8 anos, Dom Pedro II escreveu à irmã, D. Maria II, rainha de Portugal: “Já tomei sorvete de limão e de baunilha”. Depois, se apaixonou pelo de pitanga.

Mas queima a língua, é o que o povo dizia quando os primeiros sorvetes começaram a ser produzidos no Rio, em dezembro de 1834. Foi assim: em agosto daquele ano, chegaram ao nosso porto 160 toneladas de gelo a bordo em um navio de carga americano, Madagascar, que saiu de Boston.

Vieram embrulhados em serragem, e os imensos pacotes foram enterrados em grandes buracos no sopé do Morro do Castelo, o que permitiu a sua conservação por quatro a cinco meses. Mas queimava mesmo a ponta da língua, porque era preparado com gelo triturado e frutas tropicais – pitangas, cajus, cajás, abacaxis e mangas – sem a untuosidade que só foi corrigida um ano depois, quando um italiano radicado na cidade, Luigi Bassini, começou a acrescentar a esse mosto clara de ovos e leite de vaca e de coco.

Detalhe: não havia casquinhas: a nova iguaria era servida em tigelinhas de vidro. E essa sorveteria ficava dentro do Café do Círculo do Comércio, à Rua Direita, hoje Primeiro de Março, n°19.

Mesmo assim, com o calor que sempre fez no Rio, era impossível conservar o sorvete depois de pronto, o que fez com que essa e as novas sorveterias que logo surgiram anunciassem a hora certa de tomá-lo em um quadro do lado de fora, que indicava os horários de cada “safra”.

Foi um estrondo! Formavam-se pequenas multidões do lado de fora e, em paralelo, houve uma verdadeira revolução, porque não se sabe o porquê, as mulheres (de “bem”), que até então eram interditadas pelos “bons costumes” de entrar em bares, cafés e confeitarias, resolveram quebrar o preconceito e faziam filas para experimentar a novidade. E foram bem aceitas, o que levou alguns historiadores a considerar essa “isonomia” como precursora da luta pela igualdade de gêneros!

O mercado do sorvete, no entanto, demorou a ganhar escala. Só mais de cem anos depois, a empresa U.S. Harkson foi capaz de escalonar a distribuição para outros estados, com o lançamento do Eski-bon. E a partir dos anos subsequentes a população brasileira passou a ter no sorvete uma opção gastronômica nutritiva e de baixo custo. E para qualquer hora.

O publicitário Washington Olivetto, por exemplo, um fanático por sorvetes, incluiu o de pera no seu café da manhã! E na outra ponta dos populares, os picolés, há sorvetes caríssimos, como uma marca japonesa que entrou para o Guinness com este “gelato” que é produzido com queijos italianos, recheados com trufas brancas e decorado com folhas de ouro. Custa cerca de US$ 6.700, algo como 36 mil reais!

O sorvete mais caro do mundo

Segunda a Forbes deste ano, os sorvetes mais populares no mundo são o de chocolate, depois: baunilha, creme, morango, vai por aí.  E o Brasil é o sexto maior produtor, abaixo dos EUA, China, Rússia, Japão e Alemanha.

Nem tudo é permanência, contudo: há um velho ditado inglês que recomenda: sorvete e uma boa ideia, aproveite antes que derreta!

Reinaldo Paes Barreto é assessor da
Diretoria Executiva do INPI