Recentemente, a Prefeitura do Rio revelou sua intenção de criar um centro gastronômico na área do Porto do Rio de Janeiro na Gamboa, utilizando os armazéns pouco usados, naquela faixa paralela à Av. Rodrigues Alves próxima à rodoviária, área revitalizada por ocasião das Olimpíadas de 2016, com a inauguração inclusive de uma rota de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Essa disposição mostra a incompreensão do governo municipal e até de grande parte da população em relação à importância do uso correto dos armazéns, o qual geraria uma arrecadação muito maior para cidade, além de mais empregos e qualificados. Apesar de pouco divulgado, o Porto do Rio é um dos principais motores econômicos do Rio de Janeiro e individualmente seu maior polo gerador de negócios, impostos, emprego e renda. Assim, além de ser o maior ponto de arrecadação de impostos do município, também é o metro quadrado que mais gera receitas tributárias na cidade.
Hoje, os armazéns são pouco usados simplesmente porque a União precisa realizar licitações e contratos de longo prazo de tais instalações, negociação que se arrasta há cerca de 15 anos sem qualquer ação, à exceção do exitoso arrendamento de 2017 na área dos Armazéns 10 e 11 e em parte do Armazém 12, onde estão sendo construídas modernas instalações de processamento de trigo. A preservação deste patrimônio é do interesse de todos, e seu desenvolvimento contínuo e harmônico é, antes de tudo, um ato de sabedoria. É por isso que devemos lutar.
A vitalidade do Porto se traduz em mais de 5.000 empregos diretos, além de outros 12.500 indiretos que nele são gerados, com razoáveis salários, o que indica seu relevante papel na geração de trabalho e renda. Somente em 2017, o Porto foi responsável pela arrecadação de cerca de R$ 1 bilhão de ICMS no Rio de Janeiro, incidente sobre a nacionalização de cargas importadas, além de outras importantes receitas, inclusive de ISS.
Esta vitalidade tem como explicação o fato do Porto do Rio movimentar importantes volumes de cargas, especialmente aquelas de alto valor agregado, com média da ordem de US$ 1.606 por tonelada, em 2018, o maior valor por tonelada entre todos os grandes portos nacionais. Isso significa que se trata de um porto de qualidade, posição reforçada pelo fato de abrigar a maior e mais importante base de apoio marítimo “offshore” do país, imprescindível a exploração da Bacia Petrolífera de Santos, com serviços altamente especializados.
Paradoxalmente a tal importância, a cidade e seus habitantes em seu dia a dia não percebem o papel do Porto como forte irradiador de atividade econômica. Este descompasso certamente tem inúmeras explicações para ocorrer, mas, talvez, possa ser ilustrado pela escassez de estudos acadêmicos e profissionais sobre os impactos econômicos decorrentes de sua existência. Além disso, a reduzida divulgação de seus números e vantagens mais evidentes, pontos que associados ao aspecto externo não convidativo com que o Porto apresenta suas fachadas urbanas aos cidadãos, formam um imaginário coletivo de desinteresse pela região.
Sem querer polemizar, é louvável a intenção de melhor qualificar a rede gastronômica do Rio, o que entendemos que pode ser feito com êxito, mas não usando os armazéns. Seria mais inteligente apoiar o Porto do Rio a ampliar suas atividades regulares, afinal somos todos parceiros pelo desenvolvimento do Rio de Janeiro.
Publicado no jornal O Dia, nesta quinta-feira, 28 de março de 2019.
Delmo Pinho
Engenheiro e Presidente do Conselho Empresarial de Logística e Transportes