Os sinais são inequívocos. Começam com elogios inoportunos, convites fora de hora ou brincadeiras “inofensivas”. Na sequência, vêm abusos ainda piores. Todos provocam estragos, por vezes, devastadores. Mas os tempos começam a mudar. Condutas impróprias no ambiente de trabalho deixaram de ser um assunto restrito às discussões internas nas empresas. Hoje denúncias de funcionárias contra colegas e superiores, por conta de assédio e práticas abusivas, têm repercussão em escala global. E não estamos falando apenas de movimentos como Time’s Up e Me Too.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, 52% das mulheres já sofreram assédio sexual, moral ou psicológico em algum momento de suas carreiras. As vítimas, no entanto, têm saído da redoma de silêncio que as mantinham aprisionadas. A comprovação dos abusos pode custar não só a carreira dos assediadores, como a própria reputação da empresa. Em resposta, uma importante ferramenta de combate a esse tipo de conduta tem sido cada vez mais utilizada pelas corporações, ajudando a transformar o ambiente de trabalho: a Comunicação Não-Violenta (CNV).
Desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, a CNV ajuda a reduzir conflitos e a estimular compaixão, respeito e empatia, valores essenciais nas empresas. Nas palavras de Rosenberg, a mudança começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante. Ou seja, em um ambiente que estimule a competitividade, a dominação e a agressividade, tendemos a nos comportar violentamente. Na outra ponta, em ambientes acolhedores e cooperativos, as pessoas tendem a agir com generosidade e respeito.
Diversidade é uma das questões mais difíceis hoje no ambiente corporativo e a capacidade de lidar com a complexidade e com a diversidade humana é fator fundamental para evitar esses conflitos e resolver situações. Mesmo com os avanços conquistados nos últimos anos, em diversos âmbitos da vida social, a mulher é ainda hoje o principal alvo de assédio em ambientes de trabalho, e isso porque o machismo ainda é muito enraizado nos espaços corporativos.
Nesse contexto, a CNV pode ser uma ferramenta de transformação e de auxílio para pessoas e organizações. Trata-se de um processo de humanização composto de quatro passos: observação, sentimento, necessidade e pedido. Em vez de rotular os colegas com expressões depreciativas, funcionários aprendem a empregar valores como tolerância e respeito. A Comunicação Não-Violenta tem mudado os padrões de relacionamentos em mais de 100 países, tanto em relação à sua utilidade individual quanto nos ambientes corporativos e institucionais, como em governos e até na ONU.
Um dos principais agentes dessa transformação é o nível interno de confiança. Pesquisa feita pelo especialista em Neurociência e Neuroeconomia Paul Zak – publicada na revista Harvard Business Review – mostra que funcionários das empresas que estimulam a confiança no trabalho são 50% mais produtivos, 74% menos estressados e 76% mais engajados.
Já o Instituto Gallup revela que organizações nas quais o comprometimento de pessoas é maior são 22% mais lucrativas, 21% mais produtivas e têm índice de absenteísmo 37% menor em relação às que têm menor índice de engajamento. Mas, para tanto, é preciso um bom ambiente de trabalho. Empatia, parceria e comunicação eficaz são capazes de evitar muitos desses problemas, segundo os princípios da CNV.
Por isso, a CNV é tão importante, pois auxilia as pessoas a lidar com o outro, com o diferente e com as diferenças. É uma técnica fundamental para trazer níveis de consciência para quem pratica o assédio e com isso colocar fim a esta prática e também para quem sofre, poder identificar e sair desta situação.
Marie Bendelac Ururahy
Sócia-diretora e cofundadora da Be Coaching Brasil