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A Economia Anabolizada 

A Economia Anabolizada 

Por Fernando Cariola Travassos, membro do Conselho Empresarial de Políticas Econômicas da ACRJ

A administração da economia de um país requer perspectiva de longo prazo e um nível diminuto de ideologia, bem como razoável técnica. Afinal, estuda-se Economia e seus experimentos há muitos anos e já é possível rechaçar algumas fórmulas mágicas, em geral utilizadas por populistas que exploram a ingenuidade de seus eleitores. Uma dessas fórmulas baseia-se na crença de que, fomentando-se o consumo com uma política fiscal expansionista, mesmo com desequilíbrio orçamentário, a produção de bens correspondente e inexistente irá aparecer no curto prazo e permanecer, em função da reação dos empresários diante de tal hiato entre demanda e oferta.

Um crescimento inicial na oferta de bens e serviços poderá vir de algumas máquinas adicionais nas plantas existentes, rearranjo e maior utilização do espaço de produção e turnos de trabalho ampliados. Haverá uma sensação de crescimento inicial, com aumento das contratações líquidas de mão de obra temporária. Essa economia, no entanto, encontra-se anabolizada, com alta performance, mas artificialmente, fruto da criação forçada de uma demanda sem a correspondente oferta permanente para atendê-la. Não há mágica. Se a maior demanda não for acompanhada de investimentos que alterem a capacidade de produção, via novas fábricas, centros de distribuição, lojas etc., logo os custos de um arranjo temporário crescerão e a pressão de demanda sobre a economia provocará um aumento de preços, corroendo o poder de compra criado e, consequentemente, restabelecendo-se o equilíbrio do sistema. A insistência em “dobrar a aposta” e continuar o processo via expansão fiscal sem lastro iniciaria um processo inflacionário o qual deve-se evitar.

Um crescimento saudável e pujante de uma economia pode ser induzido, mas de forma harmônica, com demanda e oferta se ampliando continuamente. Isso exige maiores patamares de produção, que só será possível via novos empreendimentos, plantas e contratações de pessoal em caráter permanente–que geram demanda também. No entanto, requer a elaboração de projetos e seus respectivos financiamentos. Esses projetos implicam em investimentos que frutificam somente após três ou mais anos, significando um risco que o empresário terá que assumir.

Tal risco vai depender, além das condições financeiras, de várias premissas como:

1– Segurança regulatória, ou seja: regras claras e estáveis;

2- Sistema jurídico-processual confiável, principalmente caso haja controvérsias com o poder público;

3– Segurança pública–contra roubo de cargas, assaltos, sequestros etc;

4– Ausência de práticas obliquas generalizadas de relacionamento com o governo, principalmente nas áreas tributária, de licitações etc;

5– Infraestrutura disponível – energia elétrica, vias de transporte, saneamento etc.

O leitor poderá avaliar o quão próximo ou distante estão tais condições em seu país, estado ou município, para um empresário investir.   

Sem esses requisitos, a prática de criação artificial de demanda pode no máximo garantir a perpetuação no poder dos malabaristas populistas, dependendo de como cooptem também outros poderes, mediante miragens dialéticas. Nesse ambiente de negócios germinam apenas forças empresariais medíocres, patrimonialistas, compadrios e contaminação de políticos na administração profissional de empresas, além de uma crescente percepção de ilicitude e impunidade nas relações com o poder público. O crescimento da economia torna-se um mero detalhe; ele permanecerá medíocre e intermitente qual o conhecido voo de galinha.

Fernando Travassos também é engenheiro aposentado
do BNDES e Doutor em Economia – USP