Com o aumento de denúncias de violência sexual contra mulheres no local de trabalho nos últimos anos, se tornou inadiável uma discussão mais séria sobre o assunto. Para atacar esse problema, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro lançou um questionário eletrônico, com o objetivo de estudar a frequência desses abusos, além de avaliar a capacidade das mulheres em identificar esse tipo de situação. Chefiando essa iniciativa está a Vice-Presidente do Conselho Empresarial de Esporte da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Fabiana Bentes, que é Secretária da pasta.
“Queremos começar a mapear a questão da violência contra a mulher no local de trabalho e verificar se elas entendem de fato as situações que caracterizam assédio e violência. Temos a tendência de considerar naturais comportamentos abusivos”, afirmou Bentes.
Após análise dos dados, a intenção da Secretaria de Estado é de desenvolver políticas públicas e dar suporte às empresas, a partir desse diagnóstico inicial. “Precisamos efetivamente buscar o entendimento desse quadro e apresentar propostas de política interna nas empresas privadas. Políticas que também dialoguem com o estado, pois às vezes essa mulher também sofre violência doméstica, tem um péssimo rendimento profissional como consequência, sendo que a empresa até poderia ajudar, mas não sabe como”, disse.
Segundo Bentes, o intuito é criar canais de comunicação, ouvidorias, além de planejar formas de acolher essas mulheres. “Quando a gente realiza ações nesse sentido não estamos só protegendo a mulher, mas também a empresa que a contrata”.
O questionário busca obter 500 respostas em 45 dias, e os primeiros resultados já começaram a aparecer. De acordo com a Secretária, os primeiros resultados são “assustadores”. Entre as mulheres que responderam o questionário, 30% já solicitaram auxílio. “Não imaginávamos que isso aconteceria, mas 30% já querem nosso contato, já estão pedindo socorro. Ao mesmo tempo, já pudemos observar que mais de 70% das mulheres já sofrem diversos tipos de violência, dentro do ambiente do trabalho.”
Infelizmente, os dados apresentados nos primeiros dias da pesquisa refletem a realidade de muitas profissionais. De acordo com a Consultoria Protiviti, foram registradas mais de 160 mil denúncias de violência contra mulheres no local de trabalho entre os anos de 2007 e 2017.
Os números, no entanto, podem ser muito maiores. Dados da Organização Mundial de Saúde revelam que pelo menos 20% de mulheres violentadas no mundo permanecem em silêncio. Só no Brasil, em média, foram registradas 630 notificações de violência contra mulheres por dia no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2017.
O questionário, que pode ser encontrado aqui, será enviado às empresas associadas à ACRJ. A ideia é criar um banco de dados para mapear o tema, tendo como objetivo principal a criação de um ambiente de trabalho saudável para a mulher. O questionário é confidencial, não exige identificação da pessoa ou empresa, e será tratado de forma coletiva.
Fabiana Bentes ressaltou a importância desse tipo de iniciativa, lembrando a afirmação de uma major da Polícia Militar. “A major Claudia Moraes fala: ‘O feminicídio muitas vezes é uma mulher morta, um homem preso e uma criança órfã. A gente precisa evitar isso’.”