Com o conhecimento de quem foi embaixadora do Brasil junto às Comunidades Europeias por mais de três anos (2005-2008), além de ter sido cônsul-geral do Brasil na França até 2012, Maria Celina de Azevedo Rodrigues fez uma leitura sobre o acordo entre Mercosul e União Europeia, assinado em junho, durante a reunião do Conselho Empresarial de Política e Comércio Exterior da ACRJ, dia 23. “Devo dizer que eu estava lá há 20 anos, quando a ideia começou. A China enquanto economia não existia, o foco era a ligação do Mercosul e União Europeia, principal destino de nossas exportações, na época”, afirmou.
Segundo ela, a principal barreira nas negociações foram as pressões dentro dos estados europeus, e não no Mercosul. “O acordo foi uma vitória de anos. O obstáculo sempre foi a Europa. Eles são extremamente exigentes. Certa vez, o negociador titular da UE disse que negociar com o Brasil não é difícil. Difícil é negociar com os 30 estados do bloco europeu”, lembrou.
O lobby de produtores agropecuários europeus teria sido um dos principais entraves para o acordo, de acordo com ela, e essa pressão ainda poderia atrapalhar a continuidade das negociações. No entanto, a embaixadora acredita que o acordo ainda vai passar, mas com uma versão mais “açucarada”, e alertou: “Relações internacionais são extremamente delicadas. É difícil construir, mas fácil destruir. Eventuais falhas nas relações internacionais são como manchas de óleo na praia. Difíceis de limpar”, concluiu.
A embaixadora Maria Celina, que hoje é presidente da Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros, também falou sobre as relações do Brasil com a Colômbia. Ela relatou sua experiência no país, onde por muito tempo houve um conflito entre um governo enfraquecido e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo paramilitar criado em 1964, conhecido pelo sequestro de embaixadores estrangeiros e figuras locais importantes. “Eu não podia caminhar pelo jardim da embaixada sem que os seguranças me abordassem preocupados com atiradores”, lembrou.
Na visão da embaixadora, esse conflito, que se arrastou por 53 anos, impediu o desenvolvimento do país e levou muitas pessoas a morarem na Europa e nos EUA. “Obviamente isso era uma perda de cérebros que impactaria o futuro do país. A Colômbia era um estado com potencial e riquezas, um grande destino turístico e de investimentos que não despertava o interesse de ninguém, pois não era governado. A guerrilha não tinha o menor medo do poder constituído”, relatou. Segundo ela, o Brasil teve papel fundamental durante a negociação de paz entre o estado colombiano e as Farc, assinado em 2016. Porém, não houve uma continuidade efetiva na integração das forças revolucionárias à política nacional, o que vem acarretando uma deterioração nas frágeis relações construídas recentemente.