Artigos

Automóvel Clube

Helio Ferraz é vice-presidente da ACRJ
Helio Ferraz é vice-presidente da ACRJ

Automóvel Clube

Vou à cozinha para o café, pego o jornal e deparo-me com a foto do Automóvel Clube aos escombros, em primeira página. 

Literalmente, um retrato da falência do setor público, que não suporta mais seu inchaço e abandona nossa cultura, na esteira do incêndio do Palácio Imperial da Quinta. Já aqui, destrói-se lenta, cotidiana e completamente, outro ícone arquitetônico da história do Brasil, do Rio e do automobilismo, local do derradeiro discurso do Presidente Goulart, em 1964, em resposta aos oficiais contrários ao seu apoio à revolta dos marinheiros, perante Subtenentes e Sargentos da Policia Militar.

Com a chegada da Corte, o Parque do Passeio Público passou a bairro residencial da elite. 

Em 1845, o prédio, projeto original de Araújo Porto Alegre, recebe o Cassino Fluminense, alegria da corte, até lá se instalar a Assembleia Constituinte Republicana, em 1890.

A partir de 1900 o imóvel passa a abrigar um Clube, de proprietários de carros, até, em 1910, ser adquirido pelo Automóvel Clube – seu proprietário até a década de 1990 – que reunia a elite carioca pós monarquia com influência cultural inglesa e seus clubes sócio desportivos, este a base da cultura automobilística, traço marcante do jovem século XX, junto às rodovias e autoestradas.

Neste contexto, nasce o Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro evento de automobilismo que entre 1933 a 1954, em 12 edições, foi disputado no Circuito da Gávea, a contornar o Morro Dois Irmãos, largava na Marquês de São Vicente, cortava as Avenidas Bartolomeu Mitre, Visconde de Albuquerque, Niemeyer e Estrada da Gávea, um incrível cenário, com mais de 100 curvas de asfalto, cimento, paralelepípedo e areia, que lhe deram o apelido de “Trampolim do Diabo”. 

Na corrida de 1935, Irineu Correa – que a vencera no ano anterior e, também, nos Estados Unidos, a primeira de um brasileiro no Exterior – morreu, após se chocar com uma árvore, no canal do Leblon. 

Em 1996, o prédio passou a “Bingo Imperial”, que embora sem o mesmo glamour, conseguia lembrar as noites do Cassino Fluminense, até a proibição dos Bingos, e o edifício acabar leiloado e arrematado pelo município do Rio de Janeiro. 

O Automóvel Clube do Brasil, reorganizado, declara ter projeto de recuperação, com apoio da indústria automobilística, de R$ 30 milhões, mas desde 2003, está sem uso.

A vista da baía da Guanabara remete nosso olhar a inspirar-se, para a criação, aqui, de um porto livre, como na baía de Singapura, aberta ao mundo, com cinco milhões de habitantes, um dos cinco maiores portos do mundo, também, centro financeiro Internacional, de refinação de petróleo, o segundo maior mercado de cassinos do planeta e PIB per capita, o maior número de famílias milionárias e, diz o Banco Mundial, o melhor lugar para se fazer negócios em todo mundo, todas vocações do Rio.

Inspirados neste liberalismo econômico pode-se ter aqui, a sede da “Fórmula Indy”, ou, da “Fórmula 1”, pois namoram, ambas, nossa cidade e, ou, um “Cassino de Pôquer”, á noite, hoje legal, shows, e de jogos Esportivos eletrônicos e, ou, “Feirões de Automóveis”, de diferentes revendedoras e montadoras, todas iniciativas privadas a gerar renda, emprego e turismo.

Livre iniciativa, como no “Largo do Boticário” e “Hotel Novo Mundo”, merecedores de incentivos à conservação, sustentável e rentável, do patrimônio cultural e arquitetônico do Rio, e do Brasil, alternativa dinâmica à aceitação passiva da decadência econômica e cultural.

Helio Ferraz
Vice-presidente da ACRJ